Autor: Amelia Imperio Hamburger
Marcello Damy de Sousa Santos desenvolveu uma técnica que permitiu a descoberta dos chuveiros de raios cósmicos penetrantes, trabalhou na fabricação do sonar brasileiro, desenvolveu o Betraton, a primeira máquina nuclear no Brasil, e teve papel fundamental no desenvolvimento das pesquisas em Física no país.
Marcello Damy de Sousa Santos, nasceu em 1914. Ingressou na Escola Politécnica de São Paulo em 1933. Assistia aos cursos de matemática de Luigi Fantappié e de física de Gleb Wataghin que o chamou para lecionar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras no momento da criação da USP, assim como seus colegas Mario Schenberg e Paulus Aulus Pompéia. Com Wataghin, e logo depois com G. Occhialini, iniciaram suas carreiras de professores e pesquisadores em física.
Estagiou em Cambridge, Inglaterra. Lá, com seus dotes excepcionais como físico experimental, desenvolveu técnica de eletrônica de alta resolução que permitiu ao grupo, com Wataghin e Pompéia, descobrir os chuveiros de raios cósmicos penetrantes (de alta energia). Durante a 2ª. Guerra do séc. XX, trabalhou com Pompéia, na fabricação do sonar brasileiro, que foi contribuição importante à Marinha brasileira à época, e que teve a conseqüência de levar à criação aos Fundos Universitários de Pesquisas. Recebeu a medalha de Mérito Naval.
Desenvolveu, entre 1945 e 1951, com planejamento conjunto com Wataghin e apoio da Fundação Rockefeller, a primeira máquina nuclear no Brasil, o Betraton.
Formou muitos físicos, entre eles Oscar Sala (que desenvolveria o Acelerador Eletrostático, Van de Graff), José Goldemberg (que atuou em física nuclear e atua na área de energia), César Lattes (que atuou em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas desenvolveu um grupo de física de partículas), e muitos outros que trabalharam em várias áreas da física.
Foi encarregado de presidir a Comissão que estudaria o reator nuclear, quando o Brasil decidiu, em 1955, de acordo com o programa Átomos para a Paz. Em 1956, o Conselho Nacional de Pesquisas e o Conselho Universitário indicaram Damy para criar o IEA - atualmente Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares.
Foi presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) durante a gestão Jânio Quadros, ficando ainda na gestão Goulart. Durante essa estadia, com outros cientistas das áreas de física, química, biologia e engenharia, com o Ministério das Relações Exteriores, denunciaram o que se chamou o escândalo da monazita e a Comissão pediu a sua suspensão desse acordo.
Depois da queda de Goulart, voltou para o IEA em São Paulo, onde ficou até 1968.
Participou da organização do Instituto de Física Gleb Wataghin na Unicamp, requisitado pelo Professor Zeferino Vaz. O Instituto foi formado com as áreas de física de Altas Energias (Lattes), Estado Sólido (Sergio Porto) e Física Nuclear Aplicada (Damy). Em fins de 1971 saiu da UNICAMP.
Continuou a ter atividades de docência e pesquisa na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde formou pesquisadores e professores (na pós graduação e na graduação) e no curso de pós graduação do IPEN.
Foi casado, desde 1947, com Lucia Toledo de Souza Santos, com quem compartilhava as alegrias da cultura da música clássica, da literatura, da história.
Lembro com grande prazer as suas aulas das oito da manhã, na Rua Maria Antonia, interrompida, por instantes, para um aluno que chegasse retardatário, se acomodasse.