Há também um projeto de realização de palestras de Física nas escolas que pode ser usado para avaliar o impacto do mestrado no Ensino Básico

Roger Marzochi

No último dia 20 de maio, a filha da professora Alana Cruz de Sousa, de Araguaína, no Tocantins, completou 9 anos. A menina nem imagina que quando tinha 3 anos a sua mãe encheu a casa de papelão para criar o protótipo do livro “Física Óptica – Aprenda e Faça Você Mesmo!”, um tipo de publicação animada (pop-up) com experimentos que os alunos podiam retirar do livro para aprender Física de forma lúdica. Alana, que à época lecionava em duas escolas do Ensino Básico, desenvolveu esse projeto educacional para concluir o Mestrado Nacional Profissional de Ensino em Física (MNPEF) no campus da Universidade Federal do Tocantins (UFT) em Araguaína. Ela, que sempre gostou de desafios, foi a primeira aluna do curso no Estado, que se iniciou em 2016.

Tudo o que ela conquistou na vida foi com muita luta. Para a sua graduação em Física na UFT foi fundamental o apoio que obteve do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), concedido pelo Ministério da Educação (MEC). “E o mestrado, sem sombra de dúvidas, é um meio para diminuir as distâncias entre a escola e a universidade. Na época, o meu trabalho foi todo feito pensando nos meus alunos”, diz Alana, que hoje leciona para cerca de 490 alunos do Ensino Básico em uma escola pública e ainda mantém uma loja de roupas on-line para fechar as contas do mês.

Ela construiu três livros para levar em sala de aula e, por pouco, não conseguiu fechar acordo com uma editora. E Alana não quer ficar só no mestrado e já sonha com doutorado. Mas, por enquanto, ela estuda forte para ser efetivada como professora de Física no Estado, pois atua desde 2016 com contrato temporário.

O MNPEF completa no Brasil 10 anos de existência, data que será comemorada na Universidade de Brasília (UNB) entre os dias 17 a 21 de julho, durante o 3º Encontro do Mestrado Nacional Profissional de Ensino em Física, evento que ocorrerá em conjunto com a 15ª Conferência Interamericana de Ensino de Física, com o tema “Educação em Física para a Construção da Cidadania”.

Em dez anos, o programa de pós-graduação stricto sensu desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) conta com um total de 3.580 professores da Educação Básica formados ou em formação. Uma das condições para fazer o mestrado é ser professor no Ensino Básico, para que possa aplicar seus conhecimentos em sala de aula. Leia mais sobre o curso clicando aqui.

“O aluno do mestrado tem que ser um professor no Ensino Básico porque essa troca com os alunos é extremamente importante. Ensinar Física apenas com cálculos e fórmulas pode afastar os alunos da disciplina, portanto é importante o uso de materiais lúdicos”, diz o físico Alexsandro Silvestre da Rocha, professor do MNPEF no campus de Araguaína do UFT.

Segundo Rocha, está previsto ainda neste ano um projeto de palestras sobre Física no Ensino Básico, o que pode contribuir para medir o efeito do MNPEF no aprendizado dos alunos no futuro. O projeto está sob a coordenação da professora Érica Cupertino Gomes, que começará com o intuito primeiro de atrair alunos para o curso de Física.

Rocha explica que o MNPEF provocou grandes mudanças na vida acadêmica da universidade, que está agora em transição para a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT). Sobre a influência do mestrado na vida acadêmica, ele e as professoras Érica Cupertino Gomes e Sheyse Martins de Carvalho escreveram o artigo “O impacto do MNPEF no desenvolvimento científico do Tocantins” para a Revista Brasileira de Ensino de Física, publicado em 2022. De acordo com o artigo, o corpo docente é composto por 10 doutores que orientam duas áreas de concentração: a Física na Educação Básica; e a formação de professores de Física em nível de mestrado, que engloba o “Processo de Ensino e Aprendizagem e Tecnologias de Informação e Comunicação no Ensino de Física”.

“Após incorporarem o mestrado, a produção científica cresceu mais de 500%, chegando a 406 publicações em 6 anos e 3 meses (136 em revistas indexadas em 270 não indexadas). Dentro da temática em Educação/Ensino de Física, a produção partiu de zero para 106 trabalhos (81% em revistas indexadas), ou seja, a implementação do MNPEF criou uma nova linha de pesquisas em Física no Tocantins”, escrevem os autores no artigo.

Embora o MNPEF seja voltado para aprimorar o ensino da Física no Ensino Básico, o curso está impulsionando a produção acadêmica na área de Educação e Ensino. Antes do início do MNPEF no Estado, os pesquisadores eram obrigados a sair do Tocantins ou do País para fazer mestrado. E, agora, a produção científica está gerando novos frutos.