O presidente da SBF defendeu maior investimento público em pesquisa na Física e mudanças no ensino para atrair os jovens; as filhas de César Lattes também participaram do evento.
O presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), Rodrigo Capaz, participou na quarta-feira, dia 22 de maio, na Câmara dos Deputados, em Brasília, de sessão solene em homenagem ao Dia do (a) Físico (a). Capaz apresentou aos parlamentares os principais desafios da profissão e defendeu maior investimento público em pesquisas na Física e na ciência em geral.
Junto a Capaz, estiveram presente à mesa diretora o deputado Daniel Almeida (PCdoB/BA), que presidiu a sessão, Ricardo Galvão, professor e presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Francisco Leonardo, coordenador de administração do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Angel da Silva Martinez, presidente da Associação Brasileira de Física Médica (ABFM), o físico Anderson Gomes, diretor Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), representando a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
O evento contou ainda com a presença de Maria Lúcia Lattes e Maria Tereza Lattes, filhas do físico César Lattes, homenageado pelos 100 anos de seu nascimento em um vídeo preparado pela assessoria de comunicação do CNPq. Um vídeo completo e educativo que levou Anderson Gomes a pedir a Galvão que o material seja distribuído ao maior número de escolas do País. “As pessoas precisam ver, ouvir, conhecer, não só o nome de César Lattes, que é conhecido, mas esse legado e esse olhar para frente, esse olhar para o futuro”, diz Gomes.
Para Maria Tereza a homenagem “teria para ele (Lattes) um significado especial”. “Para ele, a ciência, o desenvolvimento da ciência, era a forma de colaborar com a evolução do País. Ele, além da parte de desenvolvimento científico, era muito preocupado com a educação”, diz a filha de Lattes, que discursou próximo ao fim do evento, ressaltando a defesa da educação para o avanço na ciência apresentado por praticamente todos os participantes.
“Como foi colocado por ilustres membros da mesa, com a criação do Dia do Físico, chamando a atenção para essa área, e com os projetos de incentivo, eu tenho certeza que, quando se pensa na educação no país, é um aspecto muito importante. Sei que ele (Lattes) se sentiria honrado, e eu agradeço pela oportunidade e pela homenagem.”
Galvão se emocionou com a presença das filhas de Lattes no evento, lembrou de quando era professor em Campinas, na Unicamp, e tinha contato com o cientista que comprovou a existência do méson pi. Ele contou histórias da perspicácia de Lattes, brasileiro que inspirou a criação do CBPF e do próprio CNPq.
“Agradeço a homenagem ao Dia do Físico. E no novo projeto do governo, da nova industrialização, pode ter certeza: não teremos um desenvolvimento sustentável, socialmente justo e equânime nesse País sem grande contribuição da ciência, em particular da Física”, diz Galvão.
Capaz, presidente da SBF, foi o primeiro a discursar, lembrando que o 19 de maio, Dia do Físico, é uma alusão ao ano de 1905, quando Albert Einstein realizou diversas descobertas que foram fundamentais para o desenvolvimento da física. “E aqui no Brasil é uma data de celebração, mas também para a gente refletir e renovar a nossa luta pelo crescimento da física no Brasil”, diz.
O presidente da SBF resumiu em quatro pontos os desafios principais da profissão. O primeiro é a necessidade de mais verbas para pesquisa em física e para pesquisa científica em geral. E, apesar de termos tido avanços, melhorias, nesse sentido, nos últimos dois anos, ainda há espaço para melhorar bastante, segundo Capaz.
“Tenho certeza que o nosso colega físico, o professor Ricardo Galvão, presidente do CNPq, concorda e está junto com a gente nessa luta, que investir em física é investir no desenvolvimento do País, é investir numa nova industrialização, uma industrialização em bases tecnológicas. E aí há diversas áreas que são estratégicas para o País e que têm uma participação importante da física, como as áreas de energias renováveis, todo o ecossistema de semicondutores e as novas tecnologias quânticas, para mencionar só algumas delas”, diz Capaz.
Francisco Leonardo, do CBPF, concordou: “O investimento na ciência, ele não é gasto público, ele é investimento futuro para a sociedade. E eu acho também que o governo poderia dar sequência, como está fazendo nesse momento, à continuidade de concursos públicos eventuais, para que a carreira possa dar um prosseguimento importante na sua área de pesquisa, e não interromper num hiato muito longo, para que lideranças científicas continuem nessa luta contínua e constante.”
Capaz lembrou que o segundo grande desafio da Física é a necessidade de novas metodologias de ensino de física e matemática no País, para voltar a atrair mais jovens para as áreas de ciência, engenharia e tecnologia, que hoje em dia vêm perdendo atratividade, mas que são áreas que a nação brasileira vai necessitar para se desenvolver. “E aqui eu diria que a bola está com a gente, está com todos nós, que é uma discussão que a gente já faz no âmbito da nossa comunidade, no âmbito da SBF, mas que a gente precisa aprofundar, e também juntamente com outras entidades, para que a gente possa fazer com que o ensino de física e de matemática seja mais atraente. E que a gente consiga trazer mais jovens para essas áreas.”
O terceiro desafio tem relação com a carreira de físico, e com a profissão. “Nós tivemos uma conquista importante em 2018, com a regulamentação da profissão de físico, mas para que isso tenha consequência, é preciso que a gente crie e regulamente o funcionamento dos Conselhos, do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Física, que é uma luta também que o deputado Daniel Almeida está nos ajudando, mas a gente precisa finalizar esse processo junto ao Executivo, e eu aqui faço um apelo ao Executivo para que isso seja levado adiante”, afirmou Capaz.
Em defesa dos Conselhos fez coro o presidente da ABFM, que pediu apoio para a aprovação, explicando que “os conselhos de profissionais são para proteger a sociedade de práticas inadequadas de profissionais que não são certificados, não têm a qualificação técnica”, diz Angel da Silva Martinez. “Isso é muito importante quando a gente vai para a área médica também, porque tratamentos equivocados podem até causar a morte da pessoa, como tivemos alguns anos atrás no Estado do Rio de Janeiro.”
O quarto desafio elencado por Rodrigo Capaz é aumentar a diversidade na física, seja de gênero, raça ou geográfica. “A física, como muitas outras ciências exatas, tem números muito ruins nesse sentido e a gente precisa fazer esforços para termos mais mulheres, mais diversidade de gênero, mais negros, mais pessoas de outras regiões do Brasil. Na SBF, nós já atuamos nesse sentido, nós temos uma comissão chamada JEDI, de Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão, mas precisamos avançar mais rapidamente”, concluiu o presidente da SBF.
Assista na íntegra a sessão solene
Se preferir ir direto para a fala do presidente da SBF, Rodrigo Capaz, vá até 14′:40″.
(Colaborou Roger Marzochi)