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Dinalva Aires de Sales, professora do Instituto de Matemática, Estatística e Física (IMEF) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), é a vencedora deste ano do Prêmio Carolina Nemes para físicas em início de carreira. Com publicações em diversas revistas de impacto, sua pesquisa em astrofísica apresenta resultados pioneiros no estudo de galáxias, como a observação de moléculas orgânicas formadas ao longo da evolução do Universo, próximas de buracos negros.

Dinalva também atua fortemente em inovação tecnológica, como fundadora e diretora científica da empresa de monitoramento ambiental Inoventer. Além disso, a  pesquisadora colabora com o Exactum, grupo do FURG que realiza a modelagem matemática e física da pandemia de COVID no estado do Rio Grande do Sul.

“Fico lisonjeada”, afirma Dinalva. “O preconceito com as mulheres na ciência é uma grande barreira que precisamos transpor. É um pré-conceito estrutural, um bloqueio para a nossa atuação, tão enraizado que a maioria das pessoas não percebe no dia-a-dia a nossa falta de apoio. Por isso agradeço ao Matheus Lazo, que foi meu coordenador adjunto do Programa de Pós-Graduação em Física do IMEF-FURG, um pesquisador muito sensível às questões sociais e que me indicou ao prêmio.”

“O Prêmio Carolina Nemes motiva e fortalece não só o trabalho da agraciada, como também uma grande rede de meninas e mulheres que buscam modelos reais para se espelharem. Dar visibilidade para modelos femininos é disruptivo, quebra o paradigma sobre o desempenho de mulheres nas ciências e entusiasma as novas gerações de mulheres cientistas.”

A Profa. Dinalva Aires de Sales concluiu a graduação em matemática pela Universidade do Vale do Paraíba (2005), mestrado em Física e Astronomia pela Universidade do Vale do Paraíba (2007) e doutorado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2012). Foi NASA Postdoctoral Fellow no Rochester Institute of Technology (RIT) em 2012/2013, e pós-doutoranda da FAPERGS/CAPES na linha de fomento à Bolsas Especiais Institucionais: DOCFIX, desenvolvendo o projeto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2013/2016. Atualmente é professora adjunta do IMEF-FURG, coordenadora de bolsas institucionais e bolsista de produtividade do CNPq, nível 2.

“Sempre tive uma veia interdisciplinar, vendo a astronomia como um grande laboratório que centraliza todas as outras ciências básicas, e pode ajudar a encontrar soluções para os grandes problemas da sociedade”, conta Dinalva. “Desenvolvi esse olhar durante meu pósdoc no RIT, em 2011, quando trabalhávamos para a NASA e precisávamos registrar nossas atividades de transferência tecnológica.”

“Como a astronomia investiga todo o tipo de sinais resultantes da interação da luz com a matéria, precisamos aprender e criar soluções técnicas que também podem utilizar os satélites a serviço da sociedade”, diz a pesquisadora. “Foi com essa abordagem de pesquisa, que chamo AstroBioGeoQuímica, que idealizei a Inoventer.”

As atividades da empresa, em colaboração com a administradora Daniele Rodrigues Garcia, levaram Dinalva a aplicar seus princípios de organização e planejamento estratégico na coordenação do Programa de Pós-Graduação em Física do IMEF-FURG. “Melhoramos o programa radicalmente, utilizando ferramentas de gestão conjuntamente com o apoio de todos do PPG-Física.  Aumentamos o número de publicações de alto impacto de 0,7 per capita, para 2,5 per capita. Mostramos ser possível avançar em muito a física no extremo Sul do país, região cada vez mais carente de infraestrutura e fomento à pesquisa.”

“Os cientistas precisam abrir os olhos para a profissionalização de sua atuação com as empresas, sem abrir mão da pesquisa em ciência básica. Ciência e empresa precisam conversar. Acredito que a união desses dois mundos vai ser cada vez mais importante para a sobrevivência da pesquisa básica no Brasil.”

O Prêmio Carolina Nemes é outorgado a mulheres físicas em início da carreira, com doutorado concluído há no máximo 10 anos, e cujo trabalho de pesquisa tenha contribuído de forma significativa para o avanço da física ou do ensino de física no País. O prêmio foi criado em 2018 pela Sociedade Brasileira de Física e seu Grupo de Trabalho para Questões de Gênero (GTG), visando reconhecer as contribuições femininas para o desenvolvimento da física brasileira, bem como contribuir para diminuir a visível assimetria de gênero na física.