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Uma medida do desenvolvimento de uma nação é a existência de institutos de pesquisa conceituados e reconhecidos. Quem nunca ouviu falar da NASA, por exemplo? O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, órgão do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) fundado em 1971, deve ser o orgulho de todo brasileiro. Basta consultar seu histórico para ter uma ideia de sua atuação e importância para a soberania nacional em ciências espaciais.

O Brasil conquistou a duras penas uma excelente reputação internacional pelo controle do desmatamento na Amazônia graças à coleta de dados realizada há décadas pelo INPE. No entanto, o INPE e seu ex-diretor, professor Dr. Ricardo Galvão, foram alvos de ataques torpes por parte da figura máxima do governo, de pronto deplorados pela diretoria e conselho da SBF em nota de 27 de julho.

O Boletim da SBF de 1 de agosto publicou uma entrevista com o professor Galvão, comentando a história do INPE, seu papel para o Brasil e seu futuro. Em particular, Galvão defende a competência e a idoneidade dos pesquisadores do instituto em resposta às ilações sobre a confiabilidade dos dados produzidos pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER). Com dados abertos ao público e metodologia transparente, o DETER é avaliado frequentemente por pesquisadores estrangeiros de alto nível, em publicações científicas internacionais de alto impacto que garantem a confiabilidade de seus resultados.

Como era esperado, a subida de tom em defesa firme e segura de Galvão aos ataques acabaram por resultar em sua exoneração, anunciada em 2 de agosto em nota do MCTIC. Declarações do Presidente indicam que essa exoneração ocorreu por “perda de confiança”.

A intervenção no INPE é inaceitável. Baseada em acusações sem fundamento sobre a honestidade científica de seus pesquisadores, prejudica a imagem do Brasil como um país sério. Os principais veículos da imprensa internacional, tais como The New York Times, The Guardian, The Economist, BBC News e Science, já alardearam a notícia, expressando preocupação crescente com o futuro da pesquisa científica no Brasil. De fato houve uma perda de confiança: a confiança de que resultados futuros não venham a ser manipulados para satisfazer interesses nebulosos.

Causam estranheza as declarações recentes do Ministério do Meio Ambiente da existência de um estudo sobre os dados do INPE que não foi divulgado a nenhuma entidade científica, assim como a sua resolução de contratar com dinheiro público uma firma, possivelmente estrangeira, para o mesmo serviço de monitoramento que o INPE já realiza.

Outro ponto importante é a divulgação dos resultados. Assim como a população tem o direito de ter acesso a índices confiáveis de inflação, desemprego, etc. , os dados sobre o desmatamento da Amazônia devem continuar a serem públicos. Os dados servem para a sociedade civil, entre outros, avaliar os resultados da política pública ambiental do governo.

A diretoria da SBF avalia com preocupação a atitude do governo federal e espera que os pesquisadores do INPE possam continuar a realizar suas pesquisas e a oferecer seus serviços à sociedade de maneira autônoma, sem interferência política e com o devido respeito que merecem. Para que isso seja possível, a indicação do próximo Diretor deve ser norteada pelos mesmos parâmetros de competência utilizados nas últimas décadas.

03/08/2019
Diretoria da Sociedade Brasileira de Física