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Figura 1 — AFC (palavras) das edições da FnE (2000-2022). Fonte: elaboração própria a partir dos gráficos gerados no softwareIRaMuTeQ (2023).
Figura 1 — AFC (palavras) das edições da FnE (2000-2022). Fonte: elaboração própria a partir dos gráficos gerados no softwareIRaMuTeQ (2023).

Estudo considerou a publicação de 415 textos, distribuídos em 20 volumes, organizados em 37 números, dede a criação da revista em 2000 até o ano passado

Roger Marzochi

A revista Física na Escola (FnE), como o próprio nome indica, tem como objetivo o debate do ensino da disciplina na Educação Básica. Mas, qual foi a profundidade desse processo, de que forma ele ocorreu ao longo dos tempos? Para responder a perguntas como essa, o físico Marcello Ferreira, professor e vice-diretor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB), realizou um estudo aprofundado de 415 textos divulgados pelo periódico desde a sua criação, em 2000, até o ano passado. Com essa análise, o pesquisador buscou registrar, catalogar, interrelacionar e fornecer uma interpretação das publicações transcorridas na revista por meio da análise textual e léxica dos artigos publicados desde sua origem.

Os dados dessa pesquisa estão no artigo “A Física na Escola: um legado da SBF, um patrimônio da educação básica”, o primeiro texto da 38º edição da revista, que pode ser lido aqui. Após 22 anos liderando a revista, o professor Nelson Studart Filho deixou a publicação. E, como comprova o estudo de Ferreira, Studart realizou um trabalho magnífico. Agora, o pesquisador da UnB é o editor-chefe e o professor Paulo Henrique Dias, do Núcleo de Educação em Ciência, Matemática e Tecnologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (NEC/UFJF), é editor-executivo da publicação. Leia mais sobre essa mudança nesta reportagem da SBF.  

“O texto é um editorial escrito na forma de artigo que tem por objetivo fazer a preservação do legado e da memória da revista, que completa a 38ª edição. É uma das três revistas editadas pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) e se consolida como aquilo a que se propõe: é voltada a professores da Educação Básica, com ênfase em conteúdos e práticas educativas em sala de aula, com linguagem acessível e temas realmente ligados ao currículo de seus tempos”, diz Ferreira.

No estudo, Ferreira separou os textos em três grupos a partir dos quais foram empregados métodos sistemáticos de análise de conteúdo com o uso do software IRaMuTeQ, que realiza análise fatorial correspondente, classificação hierárquica descendente, análise de similitude e nuvem de palavras. O estudo é permeado com gráficos que mais se parecem com obras de arte. O físico também fez um levantamento do acesso às 36 edições da FnE em sua página eletrônica, desde a sua criação: as publicações tiveram um total de 79.746 visualizações, com média de 2.215 acessos, números expressivos diante do tamanho da comunidade de professores de física da Educação Básica brasileira e que se identificam com editoriais científicos.

O pesquisador realizou, por exemplo, a Análise Fatorial Correspondente (AFC), que associa textos com variáveis e, em uma representação gráfica dos dados, ajuda na visualização da proximidade entre classes ou palavras. Os textos próximos aos eixos e ao centro aparecem como mais significativos devido à localização deles no plano fatorial. A partir dessa análise, a palavra que surgiu ao centro foi Ensino, cercada por outras palavras como experimento, lei, velocidade, circuito, ciência, luz, relatividade, universo e Einstein.

Para Ferreira, “percebe-se que os temas mais recorrentes na FnE circundam o ensino de ciências, principalmente para o Ensino Médio, dirigidamente à construção de conceitos por intermédio de experimentos e atividades de aprendizagem em sala de aula”. Ao se observar a correlação entre as palavras ou ideias que emergiram, o pesquisador identificou os seguintes vocábulos: Ensino Médio, construção de conceitos, atividades de aprendizagem em sala de aula; seguidas por: professor, conhecimento e escola; fenômeno e experimento; e, por fim, luz.

“Da análise de conteúdo das edições da FnE, resta evidente o caráter interdisciplinar das abordagens de ensino e aprendizagem da física no Ensino Médio, o que é compatível com o escopo do periódico e com o curso das políticas públicas educacionais de seu tempo, em particular as de domínio curricular. É por essa razão que em várias dimensões da presente análise o escopo ‘ensino de ciências’ evidencia-se como mais representativo da síntese textual dos artigos publicados na FnE”, avalia Ferreira.

Somando estas às outras análises feitas pelo cientista no estudo, ele afirma: “A tradição nos parece bem ilustrada: a FnE tem sido rigorosa, qualificada e resistente em sua perspectiva de divulgar física e metodologias de ensino para a Educação Básica em linguagem clara, direta, acessível e em abordagem interdisciplinar. Tem igualmente valorado abordagens de física moderna e contemporânea, em franca resistência e modulação alternativa aos conteúdos e currículos tradicionalizados e decididamente inoportunos às formas e às tecnologias de ensinar e aprender deste tempo.”