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Novos editores pretendem consolidar o escopo e ampliar o impacto da FnE

Por Flávia Natércia

A revista A Física na Escola, criada há 23 anos, conta agora com novos editores. O professor Nelson Studart Filho, coordenador acadêmico e docente da Ilum Escola da Ciência do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), responsável pela edição do periódico desde seu início, decidiu se dedicar mais a outros projetos. E, após uma chamada pública, foram selecionados para a tarefa os professores Marcello Ferreira, do Instituto de Física da Universidade de Brasília (IF/UnB), e Paulo Henrique Dias Menezes, do Núcleo de Educação em Ciência, Matemática e Tecnologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (NEC/UFJF). 

Professor Marcello Ferreira. Fonte: site do IF/UnB

Menezes fez licenciatura em Ciências pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sete Lagoas (MG) e em Física pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Formiga (MG), especialização em Ensino de Física no Centro de Ensino de Ciências e Matemática de Minas Gerais (Cecimig) e mestrado e doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ferreira, por sua vez, fez licenciatura em Física e mestrado em Ensino de Física na UnB, doutorado em Educação em Ciências na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pós-doutorado em Ensino de Ciência e Tecnologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

Professor Paulo Henrique Dias Menezes. Fonte: site do NEC/UFJF

Ambos decidiram seguir carreira na Educação em Física desde o ensino médio. Menezes começou a atuar como professor efetivo em 1992 e lecionou física na Educação Básica até 2010, quando se tornou professor do Departamento de Educação da UFJF. Ele atua na formação de professores na licenciatura em Física e também na licenciatura em Pedagogia na área de Educação em Ciências. Faz 30 anos que Menezes se dedica à Educação, com ênfase no Ensino de Física.

Por sua vez, Ferreira cursou a licenciatura em Física já pensando em fazer pós-graduação nessa área. Ele começou a lecionar há cerca de vinte anos. No meio da licenciatura, Ferreira ingressou em uma carreira de Pesquisa em Ciência e Tecnologia na Coordenação de Aperfeiçoamento em Ensino Superior (Capes), mas continuou atuando como professor na Educação Básica. Assim que concluiu seu doutorado, tornou-se professor na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), onde atuou por mais de dois anos. Então prestou concurso para a UnB, onde leciona até hoje na área de formação de professores de Física na graduação e na pós-graduação. 

O interesse dos dois professores pela revista Física na Escola (FnE) é antigo. Menezes tornou-se sócio da Sociedade Brasileira de Física (SBF) justamente para recebê-la. E, juntamente com seus colegas da Educação Básica, aguardava com ansiedade sua chegada, porque eles se identificavam com as temáticas abordadas na FnE.  “Era muito gratificante ver artigos de colegas da Educação Básica publicados na FnE”, relata Menezes, que ainda hoje indica a revista como referência aos alunos da licenciatura e àqueles que fazem os estágios e as práticas por trazer ideias e questões interessantes para a atuação do professor em sala de aula. 

Ferreira, por sua vez, se interessou pela publicação durante a graduação. Vários textos da FnE apareciam como referências nas disciplinas de formação de professores. Ele a utiliza para fundamentar muitas de suas aulas e indica seus artigos aos graduandos, mas também aos pós-graduandos, principalmente aos do Mestrado Profissional em Ensino de Física [http://www1.fisica.org.br/mnpef/apresentacao]. Para Ferreira, a FnE desempenha um papel importante tanto no suporte à formação inicial e continuada de professores quanto no suporte à docência propriamente dita, por ter linguagem acessível e atualizar conteúdos científicos e abordagens metodológicas sobre temas de ciência, sobretudo de Física. Os novos editores reconhecem o qualificado e importante trabalho de criação, desenvolvimento e manutenção da FnE realizado pelo professor Studart ao longo de sua existência.

Assim, quando a SBF fez a chamada pública para a editoria da FnE, os dois decidiram se candidatar. Suas aptidões e suas experiências pregressas foram avaliadas por uma comissão, que também os entrevistou. Ambos já haviam editado no passado e editam atualmente outras revistas com enfoque nas áreas de Ensino de Ciências, Educação e Ensino de Física. Além disso, eles tinham tido contatos prévios com a revista como autores ou avaliadores. Para eles, foi uma grata surpresa terem sido escolhidos para ser os novos editores da FnE, porque eles já se conheciam, tinham trabalhado juntos e puderam assumir a tarefa em parceria. 

Os dois pretendem manter o foco da revista, a única no Brasil voltada mais especificamente aos professores de Ciências e de Física da Educação Básica. Eles pretendem fazer com que a revista atinja cada vez mais as professoras e os professores em todo o país e, quem sabe, os vizinhos da América Latina. Nesse sentido, eles já começaram a fazer aproximações com editores de outras revistas latino-americanas em um evento voltado à Física e seu ensino, realizado em Brasília em dezembro passado. Eventualmente, a FnE talvez possa, ainda, chegar a outros continentes por meio da tradução ou da publicação de textos em outros idiomas.

Menezes e Ferreira querem ampliar o acesso por parte de professoras e professores não somente do Ensino Médio, mas também do Ensino Fundamental, visto que a Física é parte indispensável da área das ciências da natureza presente no currículo tanto do 1º ao 5º ano quanto do 6º ao 9º ano. “Há cada vez mais interesse por esse nível de ensino na pesquisa, porque percebemos que não adianta investir somente no Ensino Médio, pois, se o Fundamental não vai bem, toda a cadeia derivada dele não vai bem”, pondera Menezes. Eles consideram que, além da importância editorial, a FnE tem também uma relevância política nesse momento de profundas transformações na Educação Básica brasileira, com a reforma do Ensino Médio, a inserção de itinerários formativos e outras alterações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

O próprio nome da revista se relaciona com o fato de a Física na escola perpassar toda a Educação Básica, apesar de figurar como uma disciplina somente no Ensino Médio. “Na própria Educação Infantil, vemos ações que tendem a trabalhar elementos da Física na abordagem dos fenômenos naturais e que vão ter impacto lá na frente, no Ensino Médio. Então eu penso que uma das principais barreiras que temos de vencer e superar – e a revista tem plenas condições para isso– é o medo que as professoras e os professores de Ciências do Ensino Fundamental têm da Física”, afirma Menezes. Para ele, é preciso que os professores que lecionam Ciências se apropriem efetivamente dessa matéria, não trabalhando a educação como uma mera transmissão de conteúdos e conferindo um significado ao conhecimento da Física que proporcione aos estudantes uma melhor relação com os fenômenos naturais e amplie a visão de mundo deles. 

Outro desafio que eles vão enfrentar consiste em manter e elevar, se possível, a qualidade da publicação, avaliada pela Capes recentemente como Qualis A3, o que faz dela uma referência reconhecida pela comunidade científica nacional, devido ao trabalho e ao empenho do professor Studart. É possível ampliar seu alcance e complementar seu escopo para atender mais às demandas do Ensino Fundamental e cobrir as áreas que vão surgindo dinamicamente no curso histórico sem desrespeitar suas bases fundamentais, porque as matrizes curriculares de referência vão se alterando e a formação e o exercício profissional dos docentes também se alteram nessa medida. 

Os novos editores da FnE vão buscar para a revista uma indexação que a coloque no seu tempo e uma internacionalização que não fira seu objetivo singular de atingir os professores brasileiros. “A revista não tem como objetivo publicar números inteiros em língua inglesa, por exemplo, mas ela deve também cumprir o papel de fazer uma interface entre a formação no exercício docente de Física e de Ciências no Brasil e aquilo que o mundo está praticando em termos de inovação e melhorias”, afirma Ferreira.

 Menezes e Ferreira consideram sutis as mudanças que almejam fazer na FnE. “A revista tem uma função muito clara, mas pode atingir outras áreas do conhecimento, como as Ciências da Natureza, de forma mais orgânica, e atingir níveis e modalidades de ensino, como o Ensino Fundamental, para além do Ensino Médio, de uma forma mais consistente. E obviamente essas alterações também passam pela publicidade, pela geração de informações sobre a revista e pelos fluxos editoriais”, afirma Ferreira. 

A revista tinha fluxos editoriais que eram próprios de seu tempo. Os artigos eram recebidos e administrados por e-mail, mas os novos tempos requerem atualizações. Por isso, todo o fluxo – recebimento, triagem, avaliação, revisão, retorno, leitura de provas, editoração até a publicação– passará a ser contemplado pelo sistema Open Journal System (OJS). Esse sistema está em fase de testes e deverá ser usado a partir de março, com o devido acompanhamento, orientação e tutoriais para que isso não se torne um empecilho para quem ainda não esteja familiarizado com sistemas dessa natureza. “Os autores receberão um suporte até que tenhamos a criação de uma cultura mais consolidada no âmbito desse periódico”, afirma Ferreira. 

Os novos editores também querem reforçar as seções que já existem na FnE, que poderão ser atualizadas e incorporar novas nomenclaturas, além de buscar seções que contemplem as atualizações dinâmicas da grande área do Ensino de Física, do Ensino de Ciências e das pesquisas sobre o tema. Isso será feito com a organização de números temáticos e dossiês e a incorporação de revisores de áreas mais amplas do conhecimento. Consultores ad hoc serão buscados quando áreas específicas ou inovações em curso demandarem publicações ou conferirem sentido a alguma submissão. Também será feita uma repaginação do site.

Menezes e Ferreira acreditam que as tecnologias digitais de informação e comunicação aplicadas ao ensino são um tema que vai ocorrer naturalmente. “Essas ferramentas, mesmo com toda a dificuldade existente nas escolas públicas, já estão cada vez mais presentes na sala de aula”, afirma Menezes. Por isso, poderá haver números temáticos voltados a essas tecnologias, que não serão tratadas como um fetiche ou uma panaceia, pois sua função pedagógica deve consistir no apoio aos processos de ensino e aprendizagem da Física. 

A recente reforma do Ensino Médio reduziu significativamente a carga horária da disciplina de Física, trabalhada em alguns estados com apenas uma hora-aula semanal. “Mas, ao mesmo tempo, abrem-se outras perspectivas com os itinerários formativos e os projetos de vida, que são interdisciplinares, e espaço para novas discussões”, afirma Menezes. Segundo Ferreira, essa reforma não será tomada como uma determinação irrefutável por ser fruto da conjuntura política recente do país. A ideia é, por um lado, adaptar-se a essa contingência imediata e, por outro lado, resistir a ela, apontando seus aspectos deletérios e oferecendo alternativas.  

Quanto às redes sociais, Menezes e Ferreira compartilham a compreensão de que o reconhecimento do papel dessas mídias passa pela integração do Instagram, do Facebook e do Twitter com outras mídias multiusuários, outros canais e outras fontes. A FnE será interligada com outras revistas voltadas à pesquisa e ao ensino de Física e com associações científicas e instituições de ensino e pesquisa de amplo alcance. Nesse contexto, uma atenção particular será dada ao Youtube, no qual se pode fazer uma curadoria de conteúdos de mais longo prazo. “Pensamos na produção de vídeos curtos dos autores explicando seus trabalhos, breves falas de professores da Educação Básica com feedback acerca das matérias publicadas na revista e breves falas de estudantes sobre experiências com alguma aula ou solução educacional publicada na FnE”, conta Ferreira. 

A revista já tem um canal no Youtube, criado pelo professor Studart, mas é possível ampliar a quantidade de acessos. “Pretendemos fazer esses conteúdos atingirem um público mais amplo, induzindo inscrições no canal a partir do que será divulgado nas outras redes sociais, nas quais os usuários serão convidados a integrar uma comunidade com interesse pelo conhecimento, pela educação, pelas questões relativas ao ensino e pelo desenvolvimento da própria ciência. E pretendemos impulsionar os vídeos produzindo conteúdos que sirvam como referências”, completa Ferreira.