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Yvonne Mascarenhas

A cientista teve sua candidatura indicada pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) e da Associação Brasileira de Cristalografia (ABCr)

A cientista Yvonne Primerano Mascarenhas, 92 anos, é uma das três vencedoras do 5º Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, concedido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A anúncio foi feito pela SBPC na última sexta-feira (19/01). Yvonne teve sua candidatura indicada pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) e da Associação Brasileira de Cristalografia (ABCr). As outras duas vencedoras do prêmio foram a antropóloga Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha (na área de Humanidades) e a biomédica Regina Pekelmann Markus (na área de Biológicas e Saúde). “Esse prêmio me traz uma alegria enorme para mim e minha família”, afirma Yvonne ao Boletim SBF.

A cerimônia de entrega do prêmio será realizada no dia 06 de fevereiro, às 10h, no Salão Nobre do Centro Universitário Maria Antônia da USP (Rua Maria Antônia, 294 – 3º andar), em São Paulo. Além de celebrar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pela Unesco, a premiação comemorará o centenário de nascimento de Carolina Bori (1924-2004), que consolidou a Psicologia na ciência e na sociedade e foi a primeira cientista mulher a presidir a SBPC. No último dia 4 de janeiro, celebramos o centenário de seu nascimento.

“A SBPC preparou um dia inteiro de atividades para homenagear a pioneira da psicologia comportamental no Brasil e primeira mulher a presidir esta entidade e festejar as grandes contribuições das mulheres cientistas brasileiras, representadas pelas três vencedoras desta 5ª edição do Prêmio”, informa a SBPC sobre o prêmio, criado em 2019.

Yvonne tem uma grande história de contribuição à ciência e já foi tema de entrevista do canal Mulheres na Ciência, no Youtube.

Em entrevista ao Boletim SBF, Yvonne diz que ficou muito lisonjeada pelo prêmio por várias razões. “Primeiro porque um prêmio que leva o nome da Carolina, uma pessoa extraordinária, que trabalhou muito pela ciência e pela melhoria da situação social da mulher. E, por outro lado, esse prêmio foi instituído pela SBPC, sociedade pela qual tenho muita admiração, com a qual pude colaborar e estimular alunos a participarem. E, por todas as razões, é uma grande honra”, explica a cientista, que continua em projetos de pesquisa e também em projetos de estímulo à ciência na escola para crianças e adolescentes.

Outro motivo de orgulho, explica Yvonne, é receber um prêmio que busca estimular a independência feminina na sociedade. Desde o fim do século 19 houve muita luta para que a mulher conquistasse direitos que lhe eram negados, como o direito a voto, por exemplo. Ela lembra que quando conquistou a primeira bolsa do CNPq foi necessário a anuência do marido, o cientista Sérgio Mascarenhas.

“Até a década de 30 a mulher não tinha direito a voto. E, se solteira, era dependente do pai, e se casada, era dependente do marido. Como tenho 92 anos, atravessei esse período em grande parte. Quando eu recebi a primeira bolsa pelo CNPq, no curso de Química, a bolsa foi concedida, mas o meu marido teve que assinar uma anuência que permitia que eu a recebesse. E passei por várias coisas: para fazer transação em banco, queriam que meu marido tivesse a concordância. Eu passei por muitas coisas. Mas no ambiente cientifico eu fui bem acolhida. Mas sob o ponto de vista Civil eu passei por coisas que hoje são anedotas”, diz. “Então devemos estimular que as mulheres não se deixem dominar por preconceitos que existem sobre o papel da mulher na sociedade, como a rainha do lar, mas que elas tenham suas próprias ideias e lutem por seus direitos.”

Ela avalia que já estamos num caminho bom, com muitas mulheres ocupando cargos de importância, como a Presidência da República, quando da eleição de Dilma Rousseff. “Estamos avançando, mas ainda precisamos alertar as mulheres para elas exercerem seus direitos justos de terem profissão e serem independentes. E que os maridos sejam companheiros de profissão, mas que também exerçam papel importante na família, na educação dos filhos”, defende a cientista. “E vejo isso na minha família. Eu tenho muita confiança que vamos atingir essa situação equalitária, e que poderemos vencer outros preconceitos quanto a gênero, raça, xenofobia – a gente tem muito preconceito, até entre pessoas de diferentes Estados brasileiros”, explica ela, que tem quatro filhos, dez netos e dez bisnetos. “Todas as mulheres da minha família são profissionais, não sei se meu exemplo ajudou, mas todas têm profissões e famílias.”

Trajetória – Com graduação em Química e em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1954), Yvonne tem ainda doutorado em Química (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo (1963), livre-docência (1972) pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Harvard University (1973). Foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira no Departamento de Física da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), em 1956, e uma das pioneiras na fundação do então Instituto de Química e Física de São Carlos (IFQSC/USP).

Yvonne Mascarenhas

Ela tornou-se professora-titular do Instituto em 1981, onde também exerceu a função de diretora entre 1994 e 1998. Atua na determinação de estruturas cristalinas e moleculares por difração de raios X, abrangendo amostras mono ou policristalinas. Além disso, realiza estudos estruturais de materiais em solução ou sólidos semicristalinos por meio de espalhamento de raios X a baixos ângulos. Desde 2010, Yvonne se dedica à Difusão Científica, voltada para o apoio ao Ensino Fundamental e Ensino Médio. Nesse contexto, coordena um Grupo de Trabalho do Instituto de Estudos Avançados da USP, Polo de São Carlos, além de liderar uma Agência de Difusão Científica, cujo principal veículo de comunicação é o Portal Ciência Web.

Ao longo de sua brilhante carreira, ela recebeu dezenas de homenagens e distinções. Em 1998, foi condecorada com a Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe Grã-Cruz, e, em 2013, foi agraciada com o título de pesquisadora emérita do CNPq. Foi uma das 12 cientistas a receber o prêmio “IUPAC-2017 Distinguished Women in Chemistry or Chemical Engineering Awards” da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC ), concedido a mulheres com realizações impactantes na pesquisa em química ou engenharia química. Publicou mais de 150 artigos em revistas indexadas sobre cristalografia. Mesmo após a aposentadoria, continua atuante como colaboradora e professora aposentada em exercício no Instituto de Física de São Carlos. Leia mais sobre as outras vencedores no site da SBPC.

(Colaboraram Roger Marzochi, SBF e SBPC)