O cientista brasileiro, pesquisador do Laboratório de Física de Plasmas de Princeton, realizará palestra convidada e receberá medalha em setembro, durante o 21º Congresso Internacional de Física de Plasmas.
O físico brasileiro Vinícius Njaim Duarte, pesquisador do Laboratório de Física de Plasmas de Princeton (PPPL), da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, foi agraciado com o Prêmio Cientista em Início de Carreira de 2024 da União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP) por sua pesquisa sobre o comportamento das ondas de plasma a fim de se obter energia por fusão nuclear. Ele receberá o prêmio durante o 21º Congresso Internacional de Física de Plasmas, que será realizado em Ghent, na Bélgica, entre os dias 8 a 13 de setembro. O cientista realizará uma palestra convidada no evento e receberá ainda uma medalha durante o banquete da conferência.
“Mais do que uma honra pelo reconhecimento, é um incentivo para continuar tentando compreender e resolver problemas que ainda constituem obstáculos à realização da fusão nuclear como uma futura fonte de energia limpa, abundante e segura. É muito difícil projetar futuras plantas de fusão nuclear. Se eu puder fazer contribuições, ainda que modestas, a certos aspectos do projeto científico, já é muito gratificante”, disse Vinícius, em entrevista feita por e-mail com o Boletim SBF.
Essa é a segunda grande premiação internacional conquistada pelo brasileiro. Em agosto do ano passado, Vinícius recebeu o prêmio Early Career Research Program Award, no valor de US$ 2,5 milhões, patrocinado pelo Escritório de Ciência do Departamento de Energia dos Estados Unidos. O auxílio financeiro foi concedido para que o brasileiro possa aprimorar os estudos na produção de energia gerada a partir de equipamentos chamados Tokamaks, capazes de realizar a fusão nuclear de forma semelhante ao que ocorre em estrelas como o Sol e que tem a promessa de ser uma fonte de energia limpa e sustentável no futuro.
Vários países estão em uma corrida para tornar esse equipamento viável comercialmente. Um grande projeto envolvendo um consórcio internacional está em andamento na França: a construção do International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), em Cadarache, no sul da França, com a expectativa de produzir 500 MW de energia de fusão a partir de uma injeção de 50 MW. No Brasil, há três tokamaks em atuação: o TCABR, no Laboratório de Física de Plasma do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP); o ETE, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); e o Nova-UFES, do Laboratório de Plasma Térmico da Universidade Federal do Espírito Santo. E a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) tem um projeto de construção do Laboratório de Fusão Nuclear (LFN) a ser erguido em Iperó, no interior do Estado de São Paulo.
“Mais recentemente, o tokamak do Instituto de Física da USP, o TCABR, vem passando por uma considerável modernização sob a liderança do Prof. Gustavo Canal, que incluirá um conjunto de bobinas único no mundo, capaz de oferecer flexibilidade de configurações de plasma sem precedentes”, disse Vinícius, citando que o País tem feito um caminho importante nesse sentido, inclusive com um Programa Nacional de Fusão Nuclear. “O País vem contribuindo com importantes pesquisas na área ao longo dos anos”, afirma o pesquisador, vencedor do prêmio José Leite Lopes, concedido pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), em 2018, com a tese de doutorado “Dinâmica quase-linear e não-linear de automodos de Alfvén excitados por íons energéticos”, sob a orientação do cientista Ricardo Galvão, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) e atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Tornou-se corriqueiro na mídia notícias sobre avanços e desafios de tokamaks como o JET, na Inglaterra, o West, na França e o KSTAR, na Coreia do Sul e as expectativas sobre o ITER. Mas quais os desafios de se manter uma temperatura dez vezes maior que o núcleo do Sol? Quando a produção de energia elétrica será viável comercialmente usando esses equipamentos de fusão nuclear?
“Existem diversos problemas ainda não solucionados relacionados ao confinamento prolongado de descargas estacionárias de plasmas, ao confinamento de partículas altamente energéticas a fim de se evitar disrupções, ao material que revestirá o manto de futuros reatores, e à produção de trítio em reatores”, explica Vinícius. “As pesquisas avançaram bastante nas últimas décadas, a tal ponto que o investimento privado em fusão nuclear suplantou o investimento público em anos recentes, o que mostra um grau de maturidade dos protótipos de reator à fusão nuclear não antes visto. É impossível, no entanto, antecipar uma data para o advento de reatores comerciais, dadas as muitas variáveis envolvidas, como o grau de financiamento, e as incertezas inerentes a experimentos em escala de produção líquida de energia por fusão ainda não realizados.”
(Colaborou Roger Marzochi)