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Por Flávia Natércia

A doutoranda em Física Larissa Maria Pereira Inácio, 27 anos, é também professora substituta na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela é namorada da Flávia e aquilo que mais gosta de fazer, além de sua pesquisa, é ler. Larissa também gosta de jogos no computador que não tomam muito tempo e de atividades manuais, como cozinhar, principalmente para os outros. “Nas reuniões de meu grupo de pesquisa, sempre cozinho alguma coisa e é sempre muito legal”, conta a pesquisadora. 

Seu grupo de pesquisa se dedica às flutuações quânticas do vácuo. Trata-se de um dos fenômenos mais intrigantes da natureza. Dentro dessa temática, Larissa investiga a força de Casimir que se origina dessas flutuações quando há interação entre esferas em um meio que contém íons (eletrólito). “Tento verificar se essas forças mudam quando há um eletrólito, porque sabemos como funciona quando não há um”, conta Larissa. 

Nesse contexto, existem certos fenômenos que o Grupo de Flutuações Quânticas gostaria de entender, como o efeito de blindagem que surge. Uma das motivações desse grupo para estudar a interação entre esferas está no fato de ter como “braço direito” o Laboratório de Pinças Óticas (LPO), que são pinças de luz capazes de aprisionar e manipular partículas e têm diversas aplicações, como a manipulação do ácido desoxirribonucleico (DNA) em laboratórios de Biologia. 

“No laboratório, é possível fazer com que essas bolinhas se aproximem e medir a força resultante. E, uma vez que temos a força resultante da interação entre elas, podemos tentar, como nós conhecemos as outras forças previstas, verificar se a força de Casimir que aparece é aquela que a teoria prevê”, explica Larissa. Ela está tentando descrever essa força de forma analítica. Depois, Larissa vai tentar verificar se é um efeito mensurável. Seu grupo de pesquisa já obteve um resultado muito interessante, que dá uma ideia da forma como o efeito de blindagem pode acontecer. “Mas o que me deixou mais empolgada recentemente é que, por causa da forma como cheguei ao resultado que tenho agora, nós podemos tentar usar esse método para outras geometrias”, conta Larissa.

A doutoranda se motivou a seguir uma carreira na Física ainda durante o Ensino Médio, por causa da professora Andréa Guerra, membra da Sociedade Brasileira de Física e dava aulas que tinham muita discussão histórica. Com isso, ela viu que era possível lecionar de uma forma diferente e pensou em entrar na Física para se tornar professora do Ensino Médio. No entanto, o curso de licenciatura em Física na UFRJ é noturno e seus pais se opuseram a essa opção, então ela optou pelo bacharelado. 

Logo no início do curso, Larissa conseguiu um emprego como monitora de Matemática em uma escola. Depois de passar um ano nesse emprego, do qual gostava muito, ela ficou em dúvida quanto ao caminho a seguir e chegou a começar uma Licenciatura em Matemática. Mas, pouco tempo depois, sua vida mudou, porque Larissa cursou a disciplina Álgebra Linear para Físicos com o professor Marcus Venicius Cougo Pinto, que ela considera sensacional. Então, a jovem percebeu que gostava da Matemática na Física, e não de qualquer Matemática, e começou a pensar em trabalhar com Física Teórica. 

Esse professor pertence ao grupo de que ela faz parte atualmente. Por isso, Larissa passou a ficar de olho no trabalho deles. “E aí, quando eu estava no processo de conhecer o grupo e entender de forma mais madura o que queria fazer em termos de pesquisa, comecei a estudar muito sozinha e com o meu grupo de amigos, que são todos físicos matemáticos ou matemáticos hoje em dia”, conta Larissa. Além disso, a pesquisadora trabalhou em um projeto de apoio pedagógico coordenado pela professora Marta Feijó, outra pessoa que foi essencial para sua trajetória. “E, para eu entender que minha motivação para estudar Física é estudar quântica e eletrodinâmica, dois professores foram cruciais: Carlos Farina e Paulo Américo Maia Neto”, relata Larissa. 

Durante a graduação, ela fez diversas iniciações científicas para descobrir a área com que mais se identificava. Com o tempo e o amadurecimento que ele traz, Larissa percebeu que queria seguir na Física como pesquisadora e professora universitária. No final do curso, ela já pensava em trabalhar no grupo em que se encontra, por ter afinidade com os professores e gostar do que eles falavam sobre a pesquisa. No último ano de graduação, ela começou uma iniciação científica com o professor Felipe Rosa, que a orienta até hoje, no doutorado. Além desses professores, a motivação de Larissa vem de seus amigos. “Acho que eu não conseguiria ter criado essa maturidade para estudar e pensar em pesquisa se não os tivesse ali, querendo a mesma coisa, pensando na carreira, fazendo matérias juntos”, conta a pesquisadora. E sua mãe, que é engenheira, sempre a incentivou muito a estudar. 

Na seleção do mestrado, Larissa passou entre os primeiros lugares, então lhe foi oferecida a possibilidade de fazer um doutorado direto de cinco anos, o que possibilita teoricamente cursar todas as disciplinas em um ano e meio e dedicar todo o tempo restante à pesquisa. “Só que aí veio a pandemia. Os planos foram todos para o espaço e tive que lidar com a ansiedade de remanejá-los o tempo todo”, conta Larissa.  

Quanto às dificuldades que enfrentou em sua trajetória, ela diz que nunca sofreu nenhum tipo de assédio sexual. “Mas passei por situações de assédio moral”, lembra Larissa. Na pós-graduação, ela passou por problemas que prefere não compartilhar. Por isso, Larissa criou com amigas, no final da graduação, o Coletivo de Mulheres Elisa Frota-Pessôa (COMEF). “Nesse coletivo, percebi que muitas mulheres na UFRJ passam por situações de constrangimento e assédio moral e sexual. E não temos ainda exatamente uma forma de denunciar isso além da Ouvidoria, onde pode custar muito para a denúncia ter retorno”, conta Larissa. O coletivo também percebeu que há necessidades urgentes: a UFRJ não tem uma creche e o IF não tem um fraldário. “Com isso, a universidade diz às mães que elas não são bem-vindas. Não há nenhuma discussão sobre maternidade no nível institucional”, afirma Larissa.

A sensação de não pertencimento faz com que muita gente, depois das aulas do IF, vá embora sem discutir assuntos com os colegas nem integrar grupos de pesquisa, o que foi fundamental na trajetória de Larissa. “Isso é necessário para entender como a academia funciona, entender a Física, formar uma base, escolher uma área de interesse e entender o que se quer fazer da vida, porque a graduação é a formação do estudante como profissional”, afirma a pesquisadora. 

A uma menina que está começando agora, Larissa diria: “Física é muito legal! Tudo tem dificuldades, mas, se você quer isso, sempre haverá uma pessoa para aconselhar você, estar com você e apoiar você. Outro conselho é: viva cada coisa de uma vez, não fique antecipando”. Ademais, ela recomenda à estudante participar, principalmente, de um grupo de pesquisa, com o qual se pode vivenciar a universidade de forma mais completa. “Participe dos grupos na faculdade e viva a faculdade em toda a sua experiência, fazendo iniciações científicas, monitorias e participando de projetos de extensão, além de, claro, se possível, participar do centro acadêmico. A universidade tem muito a oferecer e a gente deve vivenciar isso”, sugere Larissa.