Sónia Semedo, presidente da UFPLP, tem expectativa positiva para a 5ª Conferência de Física dos Países de Língua Portuguesa que será realizada em Coimbra

Evento será realizado em setembro e terá como tema “A Física para um desenvolvimento inclusivo e sustentável” para debater desde mudanças climáticas, energias renováveis e questões que envolvem diversas áreas da Física

A física Sónia Semedo, da Universidade de Cabo Verde, participou em 2019 da 3ª Conferência de Física de Países de Língua Portuguesa (3ª CF-PLP), em São Tomé e Príncipe, na qual ela conheceu projetos de pesquisa e pessoas que lhe deram grande ajuda para o crescimento em sua carreira. Essa experiência não apenas de networking científico, mas do contato com pessoas de diversos países, é extremamente rica. 

E, por isso, ela é uma das grandes entusiastas da 5ª Conferência de Física dos Países de Língua Portuguesa, que ocorrerá em Coimbra, Portugal, entre os dias 8 a 10 de setembro. O evento terá como tema “A Física para um desenvolvimento inclusivo e sustentável” e abordará vários tópicos, tais como energias renováveis, Física das alterações climáticas, Física médica, ensino da Física, novas tecnologias quânticas e novos materiais, Física e património cultural, Física dos sistemas complexos, entre outros. Inscreva-se CLICANDO AQUI.

“Foi um desafio grande para mim, sendo uma pesquisadora júnior. Fui lá e a abertura que a rede mostrou foi muito boa. E isso de fato permitiu ganhar digamos alguma força, uma inspiração para de facto, dizer: ok, temos condições de fazer mais, de ir mais além e tanto a nível pessoal como a nível profissional. Eu vejo claramente que tive ganhos em participar nesta rede porque abriu-me portas, para várias oportunidades. E eu quero, que o que aconteceu comigo também seja possível que aconteça com outros colegas físicos”, diz Sonia, hoje presidente da União dos Físicos de Países de Língua Portuguesa (UFPLP).

Desde 2010, os físicos de países de língua portuguesa buscavam unir esforços para vencer as barreiras que lhe são comuns. Após vários debates, a UFPLP foi criada no dia 15 de novembro de 2019, em uma reunião na sede da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) em Lisboa, com a participação de cientistas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Portugal e Santo Tomé e Príncipe. O primeiro presidente da UFPLP foi o professor da Unesp Rogério Rosenfeld, à época, presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Hoje, a entidade tem maior participação das mulheres, sendo que a física Débora Peres Menezes, ex-presidente da SBF, hoje é vice-presidente da entidade internacional.

Segundo Sónia, o objetivo da UFPLP é promover o desenvolvimento de oportunidades e condições de colaboração entre físicos. “E contribuir para a formação profissional, o desenvolvimento cultural, científico, tecnológico e económico dos diferentes países, particularmente dos menos desenvolvidos. E aqui estamos a falar em termos de infraestruturas de educação e investigação, porque são pontos que nós, em conversações com todos os colegas, identificamos como os principais desafios dos físicos”, afirma.

Sónia tem a expectativa de a 5ª Conferência superar os números de participantes em relação ao evento da 4ª Conferência, realizado em Cabo Verde, devido à facilidade de acesso a Portugal. Na 4ª Conferência contamos com o Professor Ricardo Galvão como presidente da comissão científica e nesta 5ª, o presidente da SBF, Rodrigo Capaz, participará neste ano, assim como Rosenfeld. A grade de eventos e palestras ainda não foi divulgada pela entidade, mas Rodrigo Capaz será um dos responsáveis pela mesa redonda “Grandes Infraestruturas multiusuário”.

O networking científico, ressalta Sónia, é muito importante. Mas haverá espaço para conhecer como cada cultura busca resolver os seus problemas, para que haja uma busca por soluções em comum. “E há também a questão de mentoria. Porque é um sítio em que todos estão de braços abertos para conversar, a partilhar experiências e também guiar sempre que possível”, diz ela, que realiza agora estudos na Wellesley College por três meses, no Estado de Massachusetts, Estados Unidos no âmbito do programa Fulbright Visiting Scholar. Além dos desafios já citados, Sónia conta que está em processo a criação de uma Olimpíada de Física dos Países de Língua Portuguesa e a necessidade de atrair mais sócios para a UFPLP. Acompanhe abaixo alguns trechos da entrevista:

A Sociedade Brasileira de Física é associada à UFPLP. Isso quer dizer, então, que todos os sócios da SBF aqui do Brasil também são sócios da UFPLP? Como faz para se associar à entidade? 

Podemos ter sócios individuais ou sócios coletivos. Neste preciso momento temos três sócios coletivos que é a Sociedade Brasileira de Física, a Sociedade Portuguesa de Física e processo da Associação Angolana de Física está na fase final. Como nós somos uma entidade nova, nós não criamos essa possibilidade de que se uma pessoa é sócia de uma determinada sociedade, é automaticamente sócia, neste caso da UFPLP, por herança. Por quê? Porque nós somos novos, precisamos crescer e precisamos de sócios. O que nós fizemos foi, em vez de ter uma cota muito elevada, temos uma cota bem acessível. Por exemplo, para professores universitários, temos uma cota de 25 euros anuais. Para professores de ensino secundário e estudantes, nós temos uma cota de 5 euros, porque a nossa ideia é ter uma base para divulgação, não ter poucas pessoas a pagarem muito. 

Daí que incentivamos que, mesmo sendo sócio da Sociedade Brasileira de Física, também se associe à União dos Físicos dos Países da Língua Portuguesa, porque há vantagens. Por exemplo, a UFPLP patrocinou a participação de uma professora brasileira na Escola Sirius para Professores do Ensino Médio em janeiro último que houve no Sirius, no Brasil. A nossa única exigência para que esse financiamento pudesse ser concedido à candidata era que ela fosse associada à UFPLP. É claro que ainda não tínhamos muitos fundos, mas temos já algumas boas relações, porque para além dessas sociedades que elenquei, que são já nossas sócias, nós também temos relações com a EPS, a European Physical Society, também temos relações com a União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP) e há sempre possibilidades de colaborar e poder ajudar pontualmente algum indivíduo do país A, B ou C. Mas para isso tem que ser sócio, porque se não somos sócios nós não sabemos que as pessoas existem.

Qual a relação da UFPLP com a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP)?

Nós desde o início tentamos ter um engajamento com todos os países, tanto que nos órgãos sociais fazemos sempre o possível para que tenhamos membros dos diversos países, até então envolvidos, que são sócios da UFPLP. Digo até então envolvidos, pois já temos a participação ativa de Timor-Leste e estamos a envidar esforços para incluir a Guiné-Bissau e Guiné Equatorial.  Por essa razão também sempre quisemos ter uma proximidade com a própria comunidade dos países de língua portuguesa. Então, desde 25 de agosto de 2023 passamos a ser um observador consultivo da CPLP. Isso foi definido no 28º Conselho dos Ministros da CPLP que se realizou em São Tomé. E temos contribuído também pontualmente com algumas atividades do plano estratégico da CPLP, como, por exemplo, a criação de Olimpíadas de Física como meio de divulgação e incentivo da ciência, também as próprias conferências de física que nós estamos a realizar também estão incluídas no plano estratégico da CPLP.

Como estão os debates para uma Olimpíada de Física entre os países de língua portuguesa?

Nós temos um trabalho muito grande para fazer, porque neste preciso momento, só Portugal e Brasil é que andam a implementar Olimpíadas de Físicas. Os outros países não têm isso. Então, o que é que nós fizemos? Nós criamos uma força de tarefa, como o Rogério Rosenfeld diz, e onde tivemos o professor David Vianna, brasileiro, um dos coordenadores das Olimpíadas das escolas públicas do Brasil, onde absorvemos o conhecimento, a experiência, tanto de Portugal como do Brasil. Porque o Brasil já está há mais de 50 anos nisso, e criamos a Olimpíada de Física dos Países de Língua Portuguesa, e estamos neste preciso momento, em colaboração com a própria CPLP, ver como é que podemos implementar isto nos outros países onde ainda não temos esta atividade a ser realizada.

Uma outra atividade muito importante que nós queremos fazer também é o mapeamento dos físicos, porque, como eu estava a dizer, se não é sócio nós não sabemos se existe, mas as pessoas também não são obrigadas a serem sócias. Nós queremos fazer o mapeamento de físicos para poder caracterizar onde é que estão os físicos, o que é que eles fazem e quais são os principais desafios que, de uma forma geral, o físico está a enfrentar, para saber como União, como é que nós podemos contribuir para mitigação desses desafios.

Uma outra coisa muito importante que nós também trabalhamos muito nisso é na participação de candidaturas a projetos. Porque, como disse, nós aqui temos uma network. Então, facilmente eu posso saber que, por exemplo, eu e o Roger somos da mesma área e aparece uma candidatura que tem de ser triangular, por exemplo, tem que ter o Brasil, neste caso a América, a África e a Europa, facilmente porque já tivemos esse network, já temos uma certa confiança, então facilmente dizemos: ok, vamos cá a juntar esforços e tentar submeter determinadas candidaturas. E temos sempre estado a tentar fazer isso de modo que arranjemos maneira de arranjar fundos para contribuir para o crescimento da UFPLP e dos físicos envolvidos de uma forma indireta.

A Olimpíada é um processo que está em debate ainda. As dimensões dos países podem complicar a sua realização?

Eu sou de Cabo Verde, nós somos pequenitos, meio milhão de pessoas, é fácil de gerir para fazer uma olimpíada, mas depois temos Angola ou Moçambique, que já são grandes províncias, são enormes, só uma cidade às vezes chega a ter a população de Cabo Verde. Então o que nós decidimos é fazer isso por fase em algumas províncias para tentar simular o que seria uma Olimpíada nacional. Angola tentou fazer um desses testes e São Tomé até já avançou na questão da elaboração dos testes, a preparar para preparar os estudantes, mas ainda não se implementou nenhum piloto propriamente dito da realização da Olimpíada, mas isso é algo que nós temos que fazer. E como requer muito trabalho e também envolvimento de muitas outras entidades que não são só identidades privadas, neste caso temos que trabalhar com as entidades nacionais de educação de cada país, então leva o seu próprio tempo, mas é uma ambição que nós não queremos abrir mão. 

E quais outros benefícios da UFPLP concede aos seus sócios?

O professor Rogério, por exemplo, ele saiu da presidência, mas fez questão de ficar com uma das atividades mais periódicas que nós temos nesse momento, que são os seminários mensais, nos quais falamos de temas atuais de física em língua portuguesa, desenvolvido por gente que faz parte da comunidade. E então, todas as primeiras quintas-feiras do mês, temos um webinar, algo que hoje também gostaria que tivéssemos maior participação. Até ajustamos o horário para que seja mais adequado ao Brasil, para que tivéssemos mais visão, mas acho que está-nos a faltar aqui alguma coisa para ter uma maior divulgação.

E há descontos em eventos. Nesta quinta conferência, sendo sócio tem sempre desconto. Sendo sócio da UFPLP eu pago 140 euros, se uma pessoa não for sócio, paga 175. Logo aí já tem um ganho. E só para a conferência, porque depois disso há várias outras oportunidades que podem surgir, há sempre um valor diferenciado por ser sócio e, principalmente para esta quinta conferência, as pessoas que se inscreverem para a quinta conferência – também se for do interesse deles – podem participar na formação de professores, que será no dia 11 de setembro, no âmbito do 34º Encontro Ibérico para o Ensino da Física. Isso é algo que conseguimos negociar junto à Sociedade Portuguesa de Física, que assim, se inscrevendo na 5ª Conferência, têm acesso direto, se for do vosso interesse, participar nos workshops, nas oficinas de formação, que vão ser implementadas dentro da outra conferência que vem logo a seguir.

(Colaborou Roger Marzochi)