Diante da descabida e abusiva intimação policial do cientista Elisaldo Carlini, 87, professor emérito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) a prestar esclarecimentos por suposta apologia às drogas – acusação absolutamente infundada –, a Sociedade Brasileira de Física junta seu coro às vozes que protestam contra mais este abuso de autoridade.

A SBF subscreveu manifestação pública apresentada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela ABC (Academia Brasileira de Ciências), apoiada por mais de 40 outras entidades científicas, como forma de protesto pelo ocorrido.

“A nossa preocupação é ainda maior uma vez que esta ameaça de cerceamento da liberdade de expressão de cientistas e professores brasileiros se dá em um momento da nossa história em que vários jovens brasileiros têm se deixado seduzir pelo discurso daqueles que defendem as atrocidades e a ausência de liberdade de expressão praticadas pela ditadura militar de 1964”, diz Marcos Pimenta, presidente da SBF.

A SBF encoraja seus sócios a se juntarem a essa manifestação pública, na forma de abaixo-assinado, subscrevendo-a aqui.

Abaixo, a íntegra do texto:

Manifestação pública – Somos todos Carlini

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) conclama todos os sócios e sociedades científicas associadas, membros da comunidade científica e acadêmica e a toda a sociedade a assinarem a manifestação pública em defesa do cientista e professor emérito da Unifesp, Elisaldo Carlini, e pela liberdade de pesquisa científica no País.

 Aos 87 anos de idade, 62 anos dedicados à pesquisa, e com mais de 12 mil citações de seus trabalhos em artigos científicos de todo o mundo, o professor foi chamado para depor na polícia de São Paulo, na última quarta-feira, 21 de fevereiro, para prestar depoimento sob a alegação de fazer apologia ao uso de drogas. Segundo o manifesto das entidades científicas, esta ação é “uma provocação cruel e vazia contra um cientista que dedicou toda sua vida à fronteira do conhecimento”.

A SBPC ressalta que a participação de todos é fundamental para que a Campanha tenha a força necessária, uma vez que este ato atinge não apenas o grande pesquisador Elisaldo Carlini, mas todos os cientistas brasileiros e ameaça a liberdade de pesquisa e de expressão.

MANIFESTAÇÃO PÚBLICA

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) repudiam veementemente a intimação policial do Dr. Elisaldo Carlini para depor sobre suposta apologia às drogas. Professor emérito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), membro titular da ABC, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), primeiro representante da SBPC no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), condecorado pela Presidência da República e premiado internacionalmente, aos 88 anos o Dr. Carlini continua sendo o mais respeitado cientista brasileiro com atuação na área de drogas. Já nos anos 1970 ele produziu pesquisas pioneiras que caracterizaram a ação anti-convulsivante da maconha, que apenas nos últimos anos começou a ser amplamente reconhecida no Brasil. As descobertas do Dr. Carlini permitiram a formulação de remédios eficazes para tratar doenças como epilepsia e esclerose múltipla, hoje utilizados em diversos países. Acusar o Dr. Carlini de apologia às drogas equivale a criminalizar a inteligência e o conhecimento técnico-científico. Trata-se de uma provocação cruel e vazia contra um cientista que dedicou toda sua vida à fronteira do conhecimento. Nas palavras de Bertolt Brecht, “há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. O Dr. Elisaldo Carlini é imprescindível e sua carreira é uma apologia à vida.

Encabeçam este manifesto os seguintes presidentes de honra da SBPC:
Ennio Candotti
Francisco Mauro Salzano
Helena Bonciani Nader
Marco Antonio Raupp
Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho
Sergio Machado Rezende
Sérgio Mascarenhas de Oliveira