Até o fim de 2026, ano do centenário da visita da cientista ao Brasil, diversas atividades estão programadas para ocorrer também em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
A cientista Marie Curie nasceu na Polônia em 1867 e as dificuldades para estudar e atuar como cientista em seu país a levaram a emigrar para a França, onde foi a primeira professora mulher na Universidade de Sorbonne, entre outros marcos de pioneirismo. Suas pesquisas sobre radioatividade, que levaram às descobertas dos elementos Rádio e Polônio, garantiram a ela um Prêmio Nobel de Física (1903) e um Nobel de Química (1911).
Pelas suas pesquisas e seu exemplo de feminismo, Curie visitou o Brasil em 1926, a convite do Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura, com passagem por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, dentre outras cidades. Curie é um símbolo importante da mulher na ciência e, por isso, o projeto Meninas e Mulheres nas Ciências, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), vai refazer o caminho da cientista pelo País, com o Circuito Expositivo “Marie Curie Esteve Aqui”, que até 2026 receberá exposições e atividades nas cidades visitadas há cem anos.
“Foi uma visita bastante potente em todas essas áreas, da ciência, da cultura, do feminismo. E a gente tem procurado destacar e esmiuçar um pouco dessa rede de contatos que ela fez e do quanto a visita dela foi bastante impactante para o desenvolvimento da ciência brasileira. Muitas instituições se fortaleceram ou foram criadas, pessoas foram estudar radioatividade a partir desse intercâmbio. E a gente tem procurado então dar esse valor que é bastante importante para o desenvolvimento da ciência brasileira a partir da visita dela”, afirma a química Camila Silveira que junto com a física Camilla Oliveira, ambas professoras da UFPR, lideram o projeto, que analisou mais de 800 reportagens em veículos de comunicação e documentação de pesquisa de Curie.
“Uma física e uma química coordenando esse projeto dentro do Meninas e Mulheres nas Ciências diz muito sobre a importância desse evento, não apenas porque Marie Curie recebeu um Nobel de Física e outro de Química. Mas estamos falando de mulheres muito potentes em um projeto liderado por mulheres, para mulheres. Portanto, há pioneirismo em diversas frentes”, diz a física Camilla Oliveira. “E é importante incentivar a mulher na ciência. Na Física, por exemplo, apenas cinco mulheres obtiveram um Prêmio Nobel.”
A exposição teve início na cidade paulista de Águas de Lindóia, no dia 19 de maio, data na qual se comemora o Dia do(a) Físico(a). Além da história de Curie contada em quadrinhos, que visitou o local a convite do médico e fundador da cidade, Francisco Tozzi, foi inaugurada uma estátua em sua homenagem e a apresentação de curiosidades e de um circuito que envolve o setor hoteleiro e o comércio.
Camila Silveira lembra que visitou a cidade no início dos anos 2000, quando estava na graduação de Química, e ficou sabendo que Marie Curie havia passado pela cidade. O tempo passa, até que em 2023, ela se reuniu com a prefeitura da cidade pedindo autorização para fazer a exposição. “A exposição está fazendo muito sucesso, já teve muita gente visitando”, comemora a química.
Segundo ela, além do trabalho prévio de pesquisa nos documentos da cientista franco-polonesa, há em andamento estudos do projeto na França em busca de descobrir ainda mais informações sobre sua visita ao Brasil. Como exemplo, pegamos Águas de Lindóia, cujas fontes de água já atraíam naquela época pessoas em busca de amenizar doenças devido às suas propriedades.
Camila Silveira conta que nos documentos de viagem de Marie Curie estavam relatórios feitos por químicos do Estado de São Paulo, realizados a pedido de Tozzi, sobre a qualidade e a radioatividade natural daquelas águas. E que Tozzi, após a visita de Curie, incluiu nos rótulos das garrafas d’água que o produto havia sido atestado por Curie, mas a equipe de pesquisadoras segue em busca de algum estudo ou teste realizado por Marie que confirme essa informação disseminada na época.
“Há nos jornais que divulgaram a passagem dela por Águas de Lindóia informações de que ela publicou um trabalho científico na Europa sobre essas fontes de águas. A gente está procurando, varrendo bases de dados de vários locais, inclusive tem um trabalho de campo da nossa equipe na França, para esse ano, para ver se a gente encontra esse estudo, porque nem toda a documentação da Curie está digitalizada para a gente consultar aqui do Brasil”, explica Camila Silveira.
Marie Curie era admirada por médicos, cientistas e diversas personalidades, além de ter sido recebida calorosamente pela população em nosso país. No Brasil, ela realizou mais de 10 conferências científicas e cumpriu também uma agenda cheia de compromissos culturais e políticos. E, agora, na busca de reviver e difundir para a população brasileira este importante episódio, a exposição caminhará refazendo os passos de Marie Curie pelo Brasil até completar o centenário de sua visita ao País.
“É muito bonito mostrar às pessoas que estão no mesmo lugar em que esteve uma grande cientista mulher. A gente fez um quadro de recados para que as pessoas que visitam a exposição deixem bilhetes para Marie Curie ou para que, inspiradas a partir da exposição, deixam ali o seu nome, mostrando que também esteve lá. Estamos criando uma conexão muito bacana, uma rede afetiva, de interatividade, que deverá ser mantida durante todo o circuito pelo País”, finaliza Camila Silveira.
O projeto do Circuito Expositivo conta com apoio do CNPq por meio da Chamada Universal – CNPq/MCTI No 10/2023.
Serviço
- O quê: Exposição “Marie Curie esteve aqui”
- Quando: De terça-feira a domingo, das 9h às 17h
- Onde: Balneário Municipal Edison Brasil Tozzi Rizzo – Alameda Marie Curie, 01, Jardim Paraíso, Águas de Lindóia/SP
- Quanto: Entrada gratuita
(Colaborou Roger Marzochi)