Representantes do Brasil e de outros 16 países que integram o Observatório Pierre Auger, localizado em Malargüe, na Argentina, assinaram um acordo para manter as pesquisas científicas no local pelos próximos dez anos. O evento foi realizado no último dia 16 de novembro, com a presença de representantes das principais instituições de pesquisa e financiamento científico. A Sociedade Brasileira de Física (SBF) foi representada pelo professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rogério Rosenfeld, ex-presidente da entidade (2019-2021) e atual membro do Conselho.
Criado em 1999 e com o início da tomada de dados em 2004, o Pierre Auger é o maior complexo de detectores de raios cósmicos do mundo, cobrindo uma área de 3.000 km², duas vezes maior que a área da cidade de São Paulo. Ele é operado por uma colaboração internacional de mais de 400 cientistas, com o objetivo de estudar as partículas de mais alta energia do Universo – os raios cósmicos de ultra-alta energia. Até o final de 2022, o observatório acumulou dados correspondentes a cerca de 15 anos de exposição do arranjo completo de detectores na configuração original, conhecida como Fase I.
A extensão de funcionamento do observatório ocorre no momento em que o Brasil comemora 100 anos de nascimento de César Lattes, que na década de 1940 participou da descoberta do méson pi – hoje simplesmente chamado de píon – a partir do estudo de raios cósmicos, impulsionando a física de partículas e estimulando a criação do CNPq e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Ele ainda foi professor e orientador de Carola Dobrigkeit Chinellato, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e atual coordenadora da participação brasileira do Pierre Auger.
Os dados da Fase I do Observatório Auger revolucionaram a nossa compreensão dos fenômenos de alta energia vinculados aos processos mais energéticos do Universo. Avanços científicos foram alcançados em diversas áreas. As novas perspectivas abertas por esses resultados motivaram uma atualização do Observatório, com o objetivo principal de coletar novas informações sobre a composição química dos raios cósmicos primários de mais alta energia, evento a evento. A coleta de dados com todos os novos componentes instalados e funcionando começará em 2025 e acrescentará dados por pelo menos mais dez anos.
A participação brasileira no Observatório Pierre Auger tem sido essencial desde o início do projeto. Pesquisadores e instituições do Brasil desempenharam papéis fundamentais no desenvolvimento de tecnologias, análises de dados e formação de recursos humanos. Destacam-se contribuições como o desenvolvimento de detectores de superfície e das lentes corretoras para os telescópios, estudos sobre as propriedades dos chuveiros atmosféricos e a liderança em análises científicas que resultaram em publicações de alto impacto. O Brasil tem desempenhado um papel chave no fortalecimento da colaboração internacional e no suporte à operação contínua do observatório.
Além de Rosenfeld, a comitiva brasileira presente na cerimônia para a assinatura da extensão do acordo internacional foi composta pelos professores Carlos Frederico de Oliveira Graeff, Coordenador Geral dos Programas Estratégicos e Infraestrutura da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP); Gilvan Augusto Alves, Presidente da Rede Nacional de Física de Altas Energias e representante do CBPF na cerimônia; Caio Costa Oliveira, representando a Pró-Reitoria de Pesquisa da UNICAMP e Marcos César de Oliveira, representando o Instituto de Física da UNICAMP.
(Com informações do Observatório Pierre Auger e da SBF)