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Beatriz Alvarenga e seus brinquedos educativos para despertar o interesse da Física os alunos Crédito Foca Lisboa - UFMG.
Beatriz Alvarenga e seus brinquedos educativos para despertar o interesse da Física os alunos Crédito Foca Lisboa - UFMG.

O editorial da FnE ressalta que não há a figura do gênio isolado na ciência, mas um trabalho colaborativo e criativo que cria uma rede no qual os avanços podem ser obtidos e compartilhados.

O vol. 22 da revista A Física na Escola (FnE) celebra o centenário da professora Beatriz Alvarenga (1923-2023) e do físico César Lattes (1924-2005). Lattes destacou-se ao confirmar a existência do méson-pi em 1947 e de influenciar na criação do CBPF e do CNPq; Beatriz brilhou pelo seu pioneirismo enquanto mulher na Física abrindo um universo de possibilidades para o ensino de física, conquistando uma legião de alunos com seus livros e suas aulas empolgantes. Mas longe de celebrar a figura de gênios isolados, o editorial da revista ressalta a importância do amparo de uma rede de contatos e pesquisa, que propiciam a criatividade na ciência por meio da qual os avanços podem ser constituídos e compartilhados em sua materialidade.

César Lattes em Chacaltaya onde confirmou a existência do méson-pi. (Crédito Unicamp)
César Lattes em Chacaltaya onde confirmou a existência do méson-pi. (Crédito Unicamp)

“Isso não tira o mérito de Lattes e Beatriz enquanto pessoas revolucionárias, mas queremos pontuar que havia uma rede de apoio e um ambiente de estímulo à criatividade para que isso acontecesse. Muitas dessas pessoas permanecem anônimas, mas a ciência não é resultado da ação de um gênio isolado”, reafirma o editor da FnE Marlon Cesar de Alcantara, professor do Laboratório Interdisciplinar de Ensino de Ciências do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG), Campus Juiz de Fora.

Marlon assina o editorial junto com o também editor Paulo Menezes, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. “Os gênios não são isolados e a ciência não é isolada. A ciência é um sistema colaborativo e a sua própria credibilidade, que a gente também fala no texto, ela se dá por processos colaborativos”, diz Marlon.

O centenário de Lattes também será comemorado no simpósio “Dos Raios Cósmicos aos Aceleradores de Partículas”, entre 1 a 3 de julho, no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), um evento gratuito que celebrará História e novas conquistas da Física em 2024, como a definitiva participação do Brasil na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). Haverá, inclusive, uma oficina para professores do Ensino Fundamental e Médio nos dias 2 e 3, com inscrições online.

Marlon faz questão de ressaltar o trabalho colaborativo e a atuação em rede dos atores da ciência para discutir um grande desafio que a revista FnE vem enfrentando: a falta de pareceristas. Segundo ele, cristalizou-se a ideia de ser importante publicar artigos para comprovar o desempenho acadêmico. Para a FnE é uma honra publicar artigos de pesquisadores da área de ensino, mas também de professores e, até mesmo de estudantes da Educação Básica. Especialmente por se tratar de uma revista classificada como A3 no sistema Qualis.

No entanto, para que um artigo seja publicado é preciso que exista uma rede de colaboradores que envolve os editores e pareceristas que vão atestar a qualidade dos trabalhos submetidos. Esse é o lado invisível desse “produto” chamado artigo, no qual o crédito pende muito mais para o lado de quem assina o texto. “Os pareceristas também fazem um trabalho muito importante dentro daquele artigo, porque é uma composição. No texto final há alguns toques dos próprios pareceristas e dos editores”, explica.

Apesar de existir espaço na Plataforma Lattes para que o profissional deixe registrado sua participação como parecerista de publicação científica, essa não é a posição mais desejada entre a comunidade científica no Brasil. Marlon conta, inclusive, que muitos dos convidados a atuarem nessa posição nem mesmo responde aos e-mails de convite. “A resposta pode ser negativa. Mas a falta de resposta é algo extremamente complicado. A engrenagem não funciona só com a escrita e a publicação, é necessária a colaboração em todas as frentes, principalmente a dos avaliadores”, afirma.

Esse é um trabalho primordial. No ano passado, a FnE recebeu 145 textos e publicou 31 deles em seis linhas temáticas: História da Física e Ensino; Novas Tecnologias no Ensino de Física; Relatos de Sala de Aula; Física, Tecnologia e Sociedade; Faça Você Mesmo, e Artigos Gerais. A maioria dos artigos apresentados foram rejeitados na fase inicial do processo.

A taxa de rejeição, que beira os 68%, precisa cair. E a FnE procura buscar formas de alertar os autores sobre regras de redação e precisão das informações dos textos submetidos. Em média, um texto apresentado na revista no ano passado demorou 180 dias para ser publicado. Embora seja um timing bom, Marlon acredita que a colaboração de mais pareceristas poderia melhorar não apenas a qualidade dos textos publicados na revista, mas também diminuir o tempo entre a submissão e a publicação. “O artigo é um resultado importante, mas na ciência, tão importante quanto é o processo.”

Leia o editorial da FnE clicando AQUI!

 (Colaborou Roger Marzochi)