O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) estuda há dez anos um dos grandes mistérios do Universo: a emissão de pulsos de rádio em anãs brancas, o estágio final de estrelas como o Sol, que não deveriam apresentar essa atividade de acordo com o conhecimento reunido até hoje sobre esses corpos celestes. As emissões são comuns em estrelas de nêutrons, que se formam em explosões de corpos muito maiores que o Sol em supernovas.
A primeira detecção dessa atividade em uma anã branca ocorreu em 2008, em projeto da Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa) em parceria com a Agência Japonesa de Exploração Espacial (Jaxa). Após as recentes descobertas de dois pulsares em anãs brancas em sistemas binários em 2016 e 2023, as novas detecções de estrelas com emissões de rádio em períodos longos de 16 a 20 minutos, conforme relatado em uma matéria da National Geographic em 27 de julho, intrigaram ainda mais os cientistas. Isso ocorreu porque as estrelas de nêutrons normalmente possuem períodos de emissões de rádio entre milissegundos e segundos.
Para o astrofísico Manuel Malheiro, professor do Departamento de Física do ITA e membro do grupo de Astrofísica e Cosmologia da instituição, essas novas descobertas deveriam levar em conta a possibilidade desses astros serem anãs brancas, algo difícil de ser aceito até hoje tanto pela comunidade que investiga estrelas de nêutrons quanto pelos cientistas que estudam anãs brancas.
“Essa linha de pesquisa está sendo desenvolvida no ITA há dez anos, com apoio da FAPESP em dois projetos temáticos desde 2008 sendo o mais recente – Superdense Matter in the Universe 2014-2020, processo 2013/26258-4 – com a formação de novos mestres, doutores e atualmente professores e muitas publicações já foram feitas”, diz Malheiro, citando os estudos feitos por ex-alunos e atuais professores Ronaldo Lobato (Universidade de Los Andes, na Colômbia), Jaziel Coelho (Universidade Federal do Espírito Santo), Edson Otoniel (Universidade do Cariri, Ceará) e Sarah Borges (cursando Ph.D. na Wisconsin University Milwaukee, nos Estados Unidos).
Resultados recentes do grupo sobre este tópico saíram publicados num capítulo do volume da Word Scientific: Astrophysics in the XXI Century with Compact Stars, pp. 121-152 (2022) : https://doi.org/10.1142/9789811220944_0004
Malheiro defende a necessidade de realizar uma investigação mais aprofundada sobre os modelos de estudo das emissões de rádio nas anãs brancas extremamente rápidas e magnéticas, além de enfatizar a importância da continuidade nos investimentos em pesquisa em Astrofísica Relativística. Confira a entrevista concedida pelo professor do ITA à National Geographic.
(Colaborou Roger Marzochi)