por Marta F. Barroso
O Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF) está começando esta semana. O curso é organizado nacionalmente pela Sociedade Brasileira de Física, em 21 universidades do país, com apoio da CAPES.
Em sua fase de elaboração e aprovação, a proposta foi objeto de inúmeras discussões e polêmicas, muitas delas acirradas, na comunidade de física e de ensino de física. Neste momento em que o curso está se iniciando, é hora de reafirmar o que se pretende e agir para que o o programa tenha sucesso.
Os diagnósticos sobre a qualidade da educação básica em nosso país revelam que ela deixa a desejar. No entanto, não há consenso sobre as ações necessárias para melhorar esse quadro. Essa falta de consenso é esperada e desejável numa sociedade democrática, pois possibilita uma reflexão mais aprofundada e abre espaço para múltiplas ações em busca da melhoria do quadro.
Vivemos num tempo em que a evolução do conhecimento científico e tecnológico está se dando de forma muito rápida. A população precisa ter um mínimo de conhecimentos sobre a visão de mundo proporcionada pela ciência, para ser capaz de analisar e decidir sobre o valor dos desenvolvimentos tecnológicos de forma mais consciente. Precisa-se de estudantes interessados em cursar o ensino superior nas áreas de ciência e tecnologia para que surjam as futuras gerações de engenheiros, cientistas e técnicos. Em outras palavras, é importante que se apresente a ciência e em particular a física aos estudantes da educação básica.
Uma das componentes (certamente não a única) que influi na qualidade da educação é a qualidade de seus docentes. E a qualidade e o grau de comprometimento dos professores dependem em parte de seu conhecimento do conteúdo específico. Ninguém ensina o que não domina.
Os professores de física em nosso país são formados em cursos sob responsabilidade de Institutos ou Departamentos de Física. Uma contribuição que a Sociedade Brasileira de Física pode dar à melhoria da educação no país é fazer com que os físicos brasileiros, cujas contribuições à ciência são numerosas e importantes, colaborem no aperfeiçoamento profissional de professores. Há físicos e programas de pós-graduação em física de ótima qualidade em instituições por todo o país! Engajá-los no esforço da transformação da educação poderia fazer diferença…
O curso que se inicia propõe-se a apresentar a um número grande de professores da educação básica um aprofundamento nos conteúdos de física, principalmente em seus aspectos conceituais, fenomenológicos, e nos aspectos teóricos, metodológicos e epistemológicos de seu ensino. Propõe-se também a estimular os professores a refletir sobre sua prática profissional.
O Mestrado Profissional deve ter, associado à dissertação, o que é chamado de um produto educacional. Isto é, algum tipo de material didático (um texto, um vídeo, um aplicativo computacional, um experimento) que possa ser utilizado por alunos e outros professores e que sinalize que o professor deu o passo fundamental: o de ser capaz de reler os conteúdos de um curso de física e produzir algo que pode ser compartilhado por colegas.
Existem outros mestrados profissionais em ensino de física no país. Há a expectativa que o apoio que a SBF conseguiu com este programa também seja estendido a esses cursos, e que a SBF se esforce para que isso ocorra.
O país só tem a ganhar com uma educação científica de qualidade. Contribuir para o sucesso do MNPEF deve ser uma prioridade dos físicos e educadores em física!
25/08/2013
Marta F. Barroso
Prof. Associado – IF, UFRJ
Membro da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física do IF-UFRJ
Membro da CPG do MNPEF