Por Frederico S. M. de Carvalho

PAULA, Bruno Souza de; CODEÇO, Camilla; HOR-MEYLL, Malena; PAIVA, Thereza. Elaboração e avaliação da disciplina remota de Fi´sica 1 na UFRJ durante a pandemia de Covid-19 em 2020. Revista Brasileira de Ensino de Física (Online), v. 43, p.e20200518, 2021.

Palavras-chave: Instrução por pares, Ensino remoto, Física 1.

Em janeiro de 2020, o mundo recebia o alerta de que um novo vírus ameaçava a saúde pública mundial. O SARS-Cov-2, causador da covid-19, espalhava-se rapidamente e uma série de cuidados sanitários foram adotados na tentativa de conter a disseminação da doença. O uso de máscara e o álcool a tiracolo tornaram-se parte da rotina de todos, mas o isolamento social foi a ação que mais impactou a vida da população.

Muitas empresas foram obrigadas a adotar o home office, prática não tão desconhecida no mercado, porém, escolas e universidades, que não tinham o ensino remoto como prática permanente, tiveram que adaptar-se em ritmo acelerado na tentativa de não comprometer o ano letivo, tentando atender à demanda de diferentes perfis do corpo discente, principalmente com relação às diferenças sociais e acesso à infraestrutura necessária para atender a uma aula online.

Desta experiência nasceu o artigo “Elaboração e avaliação da disciplina remota de Física 1 na UFRJ durante a pandemia de Covid-19 em 2020”, elaborado pelos pesquisadores Bruno S. de Paula, Camilla Codeço, Malena Hor-Meryll e Thereza Paiva, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nele, os cientistas discutem o desafio de adaptar a disciplina Física 1 ao modelo remoto, apresentando a metodologia elaborada para garantir o melhor aproveitamento das aulas. Levando em consideração, dentre todos os obstáculos, o fato da disciplina contar com 1800 alunos, de 26 cursos, e uma taxa de reprovação e evasão historicamente elevada – próxima dos 75%, em média, nos três anos anteriores.

Mudança de planos

Considerando a dimensão particular da disciplina, o corpo docente havia planejado adequações, dividindo o grupo discente em quatro turmas para as quais seriam aplicadas metodologias alternativas, como sala de aula invertida e instrução por pares, enquanto nas demais turmas seriam aplicados métodos convencionais de ensino. Uma forma de avaliar a nova metodologia e, quem sabe, alertar sobre a necessidade de adoção de novas abordagens de ensino.

Porém, em março de 2020, veio o anúncio da pandemia. O trabalho teve que ser interrompido, retornando de forma remota apenas em agosto e com previsão de encerramento em novembro, totalizando 12 semanas letivas, três a menos que o usual. Foram disponibilizadas 1650 vagas para a disciplina de Física 1, divididas em 18 turmas. No entanto, dos 11 professores destinados a ela, a maioria não possuía experiência prévia com o  ensino remoto.

O que para muitos seria uma barreira, para os pesquisadores foi uma oportunidade. Decidiram, então, oferecer o ensino remoto com metodologias ativas de aprendizagem em todas as turmas, trabalho que foi estruturado nos cinco meses que antecederam à retomada das aulas.

Metodologia e ferramentas

Para a atender o corpo discente e auxiliar os professores na organização e comunicação com os alunos, foi criada uma página na internet utilizando o sistema de gerenciamento de conteúdo WordPress, uma das plataformas mais utilizadas no mundo para o desenvolvimento de websites.

Na página, havia todas as informações da disciplina: cronograma, ementa, critérios de aprovação, material de apoio – com material complementar aos estudos –, referências bibliográficas, agenda das aulas, de provas e outros conteúdos. Dentre eles, destacava-se o “Guia de Estudos”, página com as orientações para realização de cada módulo de estudo, indicando a bibliografia recomendada, exercícios a serem realizados e quais videoaulas deveriam ser assistidas antes de cadsa aula síncrona.

Outra seção disponibilizada foi a “Material de Apoio”, destinada a materiais complementares a cada módulo: vídeos de demonstrações, videoaulas da UFRJ e de outras instituições. Resultado de uma curadoria minuciosa realizada pelos professores da equipe. Ao todo, foram produzidas 21 videoaulas para os módulos, cada uma com duração média de 20 minutos.

Resultados

Após o semestre letivo, muitos foram os frutos colhidos pela equipe de pesquisadores. As metodologias ativas mostraram-se prósperas e os dados levantados pelas ferramentas utilizadas – Youtube, WordPress, Zoom e Polimoodle – foram úteis para a adequação do modelo de ensino empregado, principalmente com relação ao tempo dedicado em cada etapa de ensino. Os indicadores mostraram que as videoaulas deveriam ser mais curtas, considerando o tempo dedicado pelos alunos, por sua vez, as aulas síncronas necessitariam de maior tempo de execução, abrindo mais espaço para discussões.

A interação entre os alunos mostrou ser um desafio a ser vencido. Apesar de registros apontarem o uso de listas discursivas em grupos como um elemento agregador, no ensino remoto, foi possível registrar a dificuldade dos alunos de se integrarem, principalmente os calouros. Assim, a experiência realizada pelos pesquisadores apontou a necessidade de criação de novas ferramentas que proporcionem a interação do grupo, principalmente em situações como a vivenciada, em uma disciplina com grande número de alunos.Aos que se interessarem pelo aprofundamento na experiência documentada pelos pesquisadores da UFRJ, o artigo está disponível para leitura e download no portal Scielo. Outra boa recomendação para o aprofundamento do tema é o artigo “Engajamento de estudantes em um ensino remoto e emergencial de Física”, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais.