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Nilberto Medina (IFUSP), Nazir Monteiro dos Santos (Presidente da SBV), Helcio Onusic (professor homenageado), Tizuko Onusic (esposa do prof. Helcio) e Tadeu Degasperi (secretário da SBV). (Crédito: divulgação CBrAVIC)
Nilberto Medina (IFUSP), Nazir Monteiro dos Santos (Presidente da SBV), Helcio Onusic (professor homenageado), Tizuko Onusic (esposa do prof. Helcio) e Tadeu Degasperi (secretário da SBV). (Crédito: divulgação CBrAVIC)

Em novembro do ano passado, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Helcio Onusic oi homenageado durante o 45º Congresso Brasileiro de Aplicações de Vácuo na Indústria e na Ciência (CBrAVIC), organizado desde 1979 pela Sociedade Brasileira de Vácuo (SBV), em parceria com universidades e instituições de pesquisa. O motivo dessa homenagem é que Onusic, aos 80 anos, teve ao longo de sua carreira destacada atuação na interface entre a academia e a indústria no desenvolvimento da tecnologia de vácuo, aplicação extremamente importante desde aceleradores de partículas até empresas de alimentos.

Onusic com sua esposa Tizuko e seus netos Olivia e Otavio
Onusic com sua esposa Tizuko e seus netos Olivia e Otavio.

O que poucos sabem é que Onusic atuou para além do vácuo, estudando e utilizando tecnologias da acústica para investigar desde conforto em veículos a tecnologia ultrassônica para identificar falhas em eixos ferroviários, trens de pouso, soldagens em usinas hidroelétricas e até a medição da espessura de chapas da linha d’água de navios. Aos 16 anos, o menino que teve uma passagem rápida pelo futebol no time juvenil do São Paulo, iniciou-se na vida adulta com um trabalho no Citibank, mas foi na Física que ele revolucionou os estudos do vácuo e da acústica, atuando no Instituto de Física da USP como professor, e trabalhando nas Engenharias da Volkwswagen e Mercedes-Benz, possibilitando a indicação de alunos para cargos na indústria.

“A interação máquina/homem/meio ambiente fornece inúmeros desafios!”, diz Onusic, em entrevista ao Boletim SBF. “No ano passado, recebi a mensagem de um aluno com carreira de 20 anos no exterior, muito bem empregado, agradecendo pelas orientações que recebeu durante o curso de Física que norteou sua carreira. Fiquei muito emocionado por essa consideração. Aliás, o mérito é todo dele”, diz Onusic.

Influenciado pelo tio, o matemático Nelson Onuchic, e motivado pelo desejo de entender os fenômenos físicos, ingressou na área acadêmica, conciliando sua formação com trabalhos técnicos em acústica e vácuo. “Quando eu não trabalhava, eu estava com meus pais, e o meu tio chegou e disse que queria me levar para Rio Claro, onde ele lecionava. Mas é claro que meus pais não quiseram. E eu precisava trabalhar, justamente, para ajudar meus pais”, lembra Onusic, que após sete anos trabalhando na área de câmbio do banco, entrou em uma empresa que usava o ultrassom para testes não destrutivos, tecnologia inovadora à época.

“Eu tive a sorte de trabalhar com tecnologias ultrassônicas e acústicas ainda no início da minha carreira. Lembro de um dos primeiros testes que fizemos para medir a espessura de tanques químicos usando ultrassom. O engenheiro responsável duvidou dos resultados, mas quando confirmamos a medição com um paquímetro, ele ficou surpreso”, conta Onusic, que teve intensos contatos com grandes físicos na USP, como Oscar Sala e Ross Alan Douglas que muito o ajudaram.

O professor também teve atuação na acústica veicular, contribuindo para a redução de ruídos em veículos de passeio e comerciais, levando-os à mesma excelência dos veículos produzidos na Europa. Outro aspecto importante de sua carreira foi sua participação na montagem do acelerador de partículas Peletron, na USP. “O vácuo é essencial para que as partículas se movam sem resistência. Ajudei na instalação de tubulações e sistemas, garantindo o funcionamento adequado dos equipamentos”, relembra.

Na indústria automobilística, Onusic desempenhou um papel fundamental nos estudos e testes de compatibilidade eletromagnética, especialmente em veículos comerciais, garantindo que eles não sofressem interferências em seus sistemas eletrônicos ao passarem por áreas de alta radiação, como aeroportos e torres de telecomunicação. “O primeiro Gol GTI, por exemplo, teve que passar por testes rigorosos para evitar falhas causadas por interferência eletromagnética”, explica o físico, que quando entrou na Volkswagen, nem tinha carta de motorista.

Onusic também publicou estudos de injúria física a motoristas e ocupantes de veículos em batidas veiculares, durante “crash test”, no qual as montadoras simulam um acidente automobilístico. “Eu publiquei trabalhos nessa área de injúria de cabeça e de peito em acidentes, a partir de cálculos matemáticos”, explica o professor, que lecionou no curso de Acústica que introduziu em 1984, e durou 24 anos. O curso de Vácuo, no mesmo Instituto, continua ativo e formando muitos estudantes, mesmo após a sua aposentadoria, em 2008, agora sob a tutela do professor Nilberto H. Medina.

“Como ele tinha um pé na indústria e outro na academia, ele promoveu várias conferências, organizou encontros e viajou várias vezes para conferências no exterior. Ele publicou cerca de duas centenas de trabalhos na área de Física Aplicada nos mais diferentes temas, na maioria, com interesse direto da sociedade. A academia, em geral, principalmente aqui no Brasil, tem um pouco de dificuldades para se conectar com a indústria. Ele foi um pioneiro nessa parte de conexão entre a indústria e a academia”, afirma Medina, professor do Instituto de Física da USP, hoje também atuando no curso de Tecnologia do Vácuo, um grande legado de Onusic.

Medina explica que uma das principais contribuições acadêmicas de Onusic foi o estudo da condutância, ou seja, o inverso da impedância, que é a facilidade ou dificuldade de um gás passar por um tubo. “Se você usa um tubo bem fininho, a dificuldade é grande. Um tubo de maior diâmetro, a dificuldade é menor. Se é um tubo que tem um furinho pequenininho para o gás passar, a dificuldade é maior. Então, a condutância vai mudando dependendo da geometria. E o que o professor fez, por exemplo, foi o cálculo analítico dessas chamadas condutância usando apenas papel e borracha. Hoje, a gente pode usar cálculos usando simulação de Monte Carlo”, explica Medina. “Ele publicou um estudo sobre isso há 30 anos, quando os computadores não tinham toda essa memória que têm agora. Era muito difícil fazer essas simulações.”

O curso de Tecnologia do Vácuo faz parte da graduação do IFUSP; a cada dois a três anos é oferecido um curso especial dirigido especialmente para as indústrias que utilizam essa ferramenta. Onusic colabora nesse curso e, aos 80 anos, ele se diz realizado com sua trajetória e reforça a importância de aplicar a Física em diversas áreas. “Muitos estudantes não sabem exatamente o que farão após a graduação. Mas a Física oferece um leque imenso de possibilidades. O segredo é nunca desistir e estar aberto a novas aplicações do conhecimento”, conclui.

(Colaborou Roger Marzochi)