O desmatamento da Amazônia é uma das maiores preocupações ambientais no Brasil hoje. Conter a perda de floresta significa proteger um dos ecossistemas mais ricos do planeta e reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. Mas ninguém até então tinha pensado na questão do ponto de vista de melhoria da saúde pública.
Um novo estudo interdisciplinar internacional, em que os aspectos de física couberam à participação do Brasil, resolveu explorar essa questão. E descobriu que a redução do desmatamento na Amazonia salvou vidas. E não é pouca gente. Cerca de mil e setecentas pessoas deixaram de morrer todos os anos na América do Sul com a redução do desmatamento que ocorreu ao longo da década passada.
O principal método para desmatar as florestas é o da derrubada seguido das queimadas. Um dos resultados disso é a emissão de carbono para atmosfera, que acelera a mudança climática. Outro, menos explorado, é o despejo de grandes quantidades de poeira e fumaça na atmosfera.
Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, e seus colegas britânicos e americanos decidiram investigar o impacto das emissões dos aerossóis na qualidade do ar em toda a América do Sul.
Usando dados de satélite, eles compararam o desmatamento realizado anualmente entre 2001 e 2012 e a presença de material particulado na atmosfera. Como era de se esperar, encontraram uma correlação. Quando há mais desmate, há mais fumaça no ar. Modelos de computador da circulação atmosférica confirmaram isso.
Em seguida, os cientistas investigaram qual seria o efeito dessa presença da fumaça de desmatamento para a saúde humana – principalmente na forma de doenças cardíacas e pulmonares.
Chegaram à conclusão de que as queimadas de desmatamento, sozinhas, matam cerca de 3.000 pessoas de forma prematura em toda a América do Sul. Entre 2002 e 2011, as taxas de desmatamento no Brasil caíram 40%. Com isso, Artaxo e seus colegas estimam que cerca de mil e setecentas pessoas tenham deixado de morrer anualmente.
O resultado foi publicado online na revista “Nature Geoscience” em 15 de setembro.
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