Participantes lendo os posters expostos durante o XX EPEF em Recife, na UFPE.

Das cerca de 270 pessoas presentes no encontro, 130 eram estudantes de graduação, um salto em relação aos 37 que participaram do último evento presencial em 2018.

O XX Encontro de Pesquisa em Ensino de Física (EPEF), realizado de 19 e 23 de agosto de 2024 em Recife, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), teve uma grata surpresa: o crescimento no número de estudantes de graduação. O evento bianual, que ocorreu de forma online nas últimas duas edições, recebeu cerca de 270 pessoas, das quais 130 estudantes de graduação. Na última edição presencial, em 2018 em Campos do Jordão (SP), o número de estudantes de graduação foi de 37.

Segundo o coordenador-geral do XX EPEF, André Ary Leonel, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a presença não foi ainda maior em decorrência da catástrofe climática no Rio Grande do Sul, que impediu a participação de dezenas de pesquisadores gaúchos. E, em decorrência dessa situação, a Sociedade Brasileira de Física (SBF) não cobrou inscrição dos pesquisadores do Estado que não puderam participar do evento, garantindo a publicação dos trabalhos aceitos nos anais. “Mesmo os trabalhos que não foram apresentados durante o evento estarão nos registros”, explica Leonel. “Nós nos solidarizamos com o povo do Rio Grande do Sul.”

Uma novidade desta edição foi a série “Esquenta EPEF”: cinco lives realizadas entre os meses de março e julho de 2024, com temáticas diversas, que já contribuíram para aquecer o diálogo e motivar a comunidade a participar do evento. Presencialmente, o evento iniciou com a escola de formação, contando com quatro cursos, oferecidos concomitantemente na tarde do dia 19 de agosto. Além disso, contou com quatro mesas-redondas, duas conferências, comunicações orais e apresentação de pôsteres, com mais de 350 trabalhos apresentados.

A Comissão Organizadora da SBF com a profa Emilia Afonso Nhalevilo, reitora da Universidade Púnguè do Moçambique, durante o XX EPEF. Na esquerda, a profa. Tassiana Fernanda Genzini de Carvalho (UFPE), seguida do prof. Alexandre Campos (UFCG), prof. João Eduardo Fernandes Ramos (UFPE), profa Emilia Afonso Nhalevilo, prof. André Ary Leonel (UFSC) e profa. Lúcia Helena Sasseron (USP).
A Comissão Organizadora da SBF com a profa Emilia Afonso Nhalevilo, reitora da Universidade Púnguè do Moçambique, durante o XX EPEF. Na esquerda, a profa. Tassiana Fernanda Genzini de Carvalho (UFPE), seguida do prof. Alexandre Campos (UFCG), prof. João Eduardo Fernandes Ramos (UFPE), profa Emilia Afonso Nhalevilo, prof. André Ary Leonel (UFSC) e profa. Lúcia Helena Sasseron (USP).

Criado em 1986, o EPEF é um espaço privilegiado para o diálogo entre cientistas de diferentes regiões do Brasil, promovendo reflexões e ações de cunho político, científico e educacional. Além de Leonel, integraram a comissão organizadora do evento os professores Alexandre Campos (UFCG), João Eduardo Fernandes Ramos (UFPE), Lúcia Helena Sasseron (USP) e Tassiana Fernanda Genzini de Carvalho (UFPE). Além da SBF, o evento contou com o apoio da CAPES, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), da Associação dos Docentes da UFPE (Adufepe), do Instituto Geogebra de Pernambuco e da Papelaria Tree.

“Nas veredas da pesquisa, com quem nos comunicamos e para onde queremos ir?” foi o tema desta edição, que contou com conferência de abertura proferida por Emilia Afonso Nhalevilo, professora da Universidade Pungue, em Moçambique. “A professora Emilia, atual reitora da Universidade de Pungue, foi a primeira mulher em Moçambique a ocupar este cargo em Universidades Públicas e foi considerada, em 2021, pela African Shapers uma das 100 pessoas mais influentes da África Lusófona. Sua fala trouxe questões sobre a ética do cuidado, incluindo a necessidade de repensar o ensino de Física, contemplando, sobretudo, as pessoas e saberes que são excluídos da ciência, o chamado ‘espitemicídio’, no qual só é considerado o saber construído no Norte Global por homens brancos, sem levar em consideração os saberes e as contribuições de outros povos. As mesas seguiram essa perspectiva, tocando na temática do evento, perpassando por caminhos já trilhados pelas pesquisas da área, suas implicações no Ensino de Física e assim mirando novos horizontes onde precisamos chegar”, conta Leonel.

Esse debate está ligado diretamente ao tema do encontro, ao defender uma comunicação no sentido freireano, visto que “a educação é comunicação, é diálogo, na medida que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”, como escreve Paulo Freire em seu livro “Extensão ou comunicação?”. “Aliás, foi muito significativo realizar o evento em Recife, a terra onde nasceu Paulo Freire”, conclui Leonel.

(Colaborou Roger Marzochi)