Um grupo internacional de pesquisadores operando no CERN obteve a mais precisa medida já feita sobre o anti-hidrogênio, com acurácia de 2 partes por trilhão. E ele permanece virtualmente idêntico ao hidrogênio convencional, preservando o mistério de por que o universo parece ser feito todo de matéria e não de antimatéria, ou de uma mistura de ambas.
Uma possível assimetria jogaria luz sobre esse grande enigma. A comparação entre matéria e antimatéria testa a simetria fundamental da física de Carga-Paridade-Tempo (CPT), que é base do Modelo Padrão, o contexto onde são organizadas as partículas fundamentais e suas interações.
O artigo da Colaboração ALPHA, que conta com pesquisadores brasileiros, foi publicado na revista “Nature” em 4 de abril e traz a medida mais precisa da frequência na transição 1S-2S do anti-hidrogênio, num salto da camada eletrônica K para a camada L, excitada por um laser ultrapreciso.
A realização bem-sucedida do experimento é fruto de 20 anos de trabalho nas diversas etapas necessárias, como a produção de átomos de anti-hidrogênio e seu posterior aprisionamento por meio de campos magnéticos – um desafio complexo, dado que qualquer contato do anti-hidrogênio com matéria convencional levaria à aniquilação completa das partículas envolvidas na colisão.
A primeira publicação de um resultado do tipo com o experimento veio no ano passado, e desde então os pesquisadores têm trabalhado para melhorar ainda mais sua precisão. “Agora é que adentramos um regime novo”, diz Cláudio Lenz Cesar, pesquisador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos participantes brasileiros da Colaboração ALPHA, que também conta com Daniel de Miranda Silveira, Rodrigo Lage Sacramento e Bruno Ximenes Alvez. “Vamos ver o que o futuro nos traz.”
O experimento continuará buscando precisão cada vez maior, a fim atingir 14, 15 ou 16 casas decimais, e a esperança é que em algum momento ele revele uma assimetria entre matéria e antimatéria que ajude a explicar a própria natureza do Universo e abra caminho para a investigação de um novo leque de fenômenos.
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