José Nelson Onuchic, que foi orientado por Hopfield, em palestra em São Paulo. (Crédito: Thiago Codinhoto/ICTP-SAIFR)
José Nelson Onuchic, que foi orientado por Hopfield, em palestra em São Paulo. (Crédito: Thiago Codinhoto/ICTP-SAIFR)

Um brasileiro assistiu “de cadeira” aos avanços de John J. Hopfield na criação da primeira rede neural, que rendeu ao cientista americano o prêmio Nobel de Física de 2024 junto com Geoffrey E. Hinton, que usou da Física Estatística para expandir esse conceito a redes neurais mais complexas. Quem foi testemunha ocular dessa história foi o pesquisador José Nelson Onuchic, 66 anos, que foi orientado no doutorado no Caltech por John Hopfield, e que participou na semana passada no III ICTP-SAIFR Symposium on Current Topics in Molecular Biophysics em São Paulo.

O primeiro artigo de Hopfield foi publicado em 1982, seguido de outro em 1984. O desenvolvimento das redes neurais inspirou a ciência a alcançar hoje alto nível de complexidade com sistemas que vão desde aplicativos de trânsito à sistemas de inteligência artificial como ChatGPT e Gemini.

Onuchic, professor na Universidade Rice, no Texas, um dos co-diretores do Centro de Física Biológica Teórica da universidade, já foi co-diretor do centro da NSF Center for Theoretical Biological Physics, lecionando também no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), lembra que o cientista americano trabalhava sozinho, sendo o único autor do artigo seminal de 1982.

O brasileiro estudou com Hopfiel em transferência de elétrons, mas afirma: “Eu trabalhei em transferência de elétrons, mencionada na descrição do Prêmio Nobel como uma das grandes descobertas de Hopfield. Está certo? Mas o artigo de 82 e de 84, se você observar, ele é o único autor. Mas eu assisti de cadeira todo esse período”, diz o cientista brasileiro, em vídeo divulgado no Instagram em depoimento ao Centro Internacional de Física Teórica – Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR).

Onuchic comemora a união entre a física e a biologia no Prêmio Nobel de Física. (Crédito: Thiago Codinhoto/ICTP-SAIFR)
Onuchic comemora a união entre a física e a biologia no Prêmio Nobel de Física. (Crédito: Thiago Codinhoto/ICTP-SAIFR)

“A ideia de física aplicada à computação era algo muito grande que surgiu num período muito fértil lá. Em 1984, teve um curso que foi dado pelo John Hopfield e pelo Richard Feynman, que chamava Física e Computadores. E uma semana quem dava aula era o John Hopfield, outra semana quem dava aula era o Richard Feynman. Hopfield, quando falava, falava sobre redes neurais. Feynman, quando falava, falava de Quantum Computers. Então foi um curso que você vê… Hoje em dia todo mundo fala que Artificial Intelligence, computadores quânticos, é uma coisa muito moderna.”

Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) dede 2010, Onuchic recebeu seu doutorado pelo Caltech em 1987. De acordo com o site da ABC, seu trabalho de tese foi sobre novos aspectos da teoria da transferência de elétrons em biologia. E o cientista brasileiro ressalta a importância do Nobel de Física para Hopfield em decorrência de ter sido o primeiro cientista a buscar unir biologia e Física. “É o primeiro prêmio dado a uma pessoa que trabalhou na interface da física e da biologia, um prêmio dado pela física, não pela biologia.”

(Colaboraram Roger Marzochi, Celina Lerner e Igor Zolnerkevic)