O “Brazilian Journal of Physics”, periódico científico da Sociedade Brasileira de Física, tem novo Editor-chefe. Assume a função Antonio Martins Figueiredo Neto, do Instituto de Física da USP, substituindo Luiz Nunes de Oliveira, também da USP, Editor-chefe do BJP pelos últimos três anos.

“Em 31 de março de 2011, comecei um mandato (informalmente) definido como de três anos pelo Conselho da SBF”, explica Nunes. “Por coincidência, bem no final do mês passado, dois dias antes de encerrar-se esse mandato, recebi convite do Reitor da USP, (e aceitei) para presidir a Comissão Especial de Regimes de Trabalho, um órgão da Reitoria que controla a evolução de docentes em início de carreira e avalia pedidos de mudança de regime de trabalho.”

 Sob seu comando, o BJP sofreu uma reformulação quando estabeleceu parceria com a editora Springer visando aumentar sua presença e relevância em termos internacionais. O esforço já rende frutos. No último número da revista, publicado em fevereiro de 2014, ainda na gestão de Luiz Nunes,  destacam-se dois artigos teóricos bastante distintos.

Um trabalho de revisão abrangente produzido por dois autores da Universidade do Missouri, nos EUA,  Carsten A. Ullrich e Zeng-hui Yang, apresenta uma introdução e uma análise da teoria do funcional da densidade dependente do tempo (TD-DFT – time dependent density functional theory). A DFT (Density Functional Theory) é uma teoria bem estabelecida para o estudo do comportamento de materiais no estado fundamental.

A TD-DFT generaliza e amplia a DFT, permitindo descrever elétrons na matéria em diferentes condições, inclusive os estados excitados. Esta técnica permite determinação de energias de excitações eletrônicas em sistemas de muitos corpos (núcleos e elétrons) — processo fundamental na física atômica, molecular e de sólidos.  Por exemplo, as excitações eletrônicas são responsáveis pelo comportamento e propriedades ópticas de materiais.

Esta edição do BJP traz ainda um artigo tratando de aspectos geométricos da dinâmica de emaranhamento de dois pares de qubits que evoluem de acordo com um modelo específico (chamado Jaynes-Cummings duplo). Os autores identificam analogias entre propriedades geométricas obtidas no modelo estudado  e o desaparecimento súbito do emaranhamento.

A autora sênior deste artigo, Maria Carolina Nemes, da Universidade Federal de Minas Gerais, submeteu o trabalho para publicação em 13 de dezembro de 2013, um dia antes de seu falecimento precoce, causado por um acidente doméstico. São também  autores A. R. Vieira, da UFMG, J. G. G. de Oliveira Junior, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, e J. G. Peixoto de Faria, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais.

Para ler o artigo de Yang e Ullrich, clique aqui (resumo de acesso livre, trabalho completo para assinantes).

Para ler o artigo de Nemes et al., clique aqui (resumo de acesso livre, trabalho completo para assinantes).

Abaixo,  entrevistas relâmpago: uma com Luiz Nunes de Oliveira,  agora substituído no cargo de Editor do BJP por  Antonio Martins Figueiredo Neto, que concede a 2a entrevista.

Jogo rápido, com Luiz Nunes de Oliveira

SBF – Como você avalia sua gestão à frente do BJP? Ele sofreu muitas mudanças recentes. É possível já sentir os resultados?
Nunes – Encaro o período de três anos em que coordenei o trabalho do corpo editorial do BJP como uma fase de transição. O acordo com a Springer criou vários novos desafios que precisamos enfrentar ao mesmo tempo em que administrávamos a rotina editorial da revista. Esses desafios somente puderam ser superados porque trabalhei com uma equipe – os Professores Alberto Saa, Daniel Vanzella, Francisco Coutinho e Ricardo Galvão – entusiasmada e crítica, que logo desenvolveu uma visão do processo editorial muito mais rica do que aquela que eu tinha no início de 2011. Fomos muito ajudados por vários membros do Conselho Editorial. Aprendemos muito nesse período e espero que possamos transmitir nossa experiência para a nova equipe de forma que ela se apoie em uma base mais sólida para começar seu trabalho. A política editorial que desenvolvemos já se reflete nos últimos números. Cresceu substancialmente a fração de artigos publicados por autores brasileiros e, em menor escala, da Europa e de outros países da América. Conseguimos superar, na média, as metas de publicar um artigo de revisão e outro na linha ‘News and Views’ a cada número, e muitos dos artigos desse tipo são excelentes. E, uma mudança que me dá particular satisfação, publicamos muitos bons artigos escritos por jovens pesquisadores, tipicamente doutores recém-contratados por universidades brasileiras cujos departamentos de física estão em ascensão. Não conseguimos alcançar o patamar que todos almejamos para a revista, mas estou certo de que o Professor Antonio Martins Figueiredo Neto, cuja competência no trabalho em prol da física brasileira é conhecido por toda nossa comunidade, chegará lá.

SBF – Na sua opinião, quais são as principais dificuldades na edição da revista, em seus moldes atuais?
Nunes – Para responder a essa pergunta, preciso começar por definir o objetivo da revista. O BJP é um instrumento de coesão de nossa comunidade. É primariamente um veículo para físicos, brasileiros ou estrangeiros, tornarem sua atividade conhecida pela comunidade nacional. Por isso, a política editorial que promovemos nestes últimos três anos procurou valorizar o raciocínio científico e a discussão física, mais do que os resultados. Essa linha de trabalho é muito bem compreendida pelo corpo de revisores da revista, a grande maioria dos quais emite pareceres construtivos, que visam a melhorar tanto a apresentação como o conteúdo dos textos. No entanto, apenas uma pequena fração dos autores em potencial entende a política editorial. Como consequência, apesar de receber um número grande de submissões, aproximadamente 500 trabalhos por ano, a revista somente consegue publicar dez porcento deles. Nós gostaríamos que os bons físicos brasileiros mantivessem o hábito de publicar um trabalho, original ou de revisão, no BJP a cada dois ou três anos. Infelizmente, esse costume ainda é a exceção, não a regra. Está aí a principal dificuldade na edição da revista, a única importante; as demais dificuldades são práticas e como se apequenam frente à outra, não merecem ser discutidas aqui. Mudar hábitos custa tempo. A equipe editorial e o Conselho Editorial do BJP deram um passo nessa direção nos últimos anos, mas o novo Editor poderá dar um enorme salto, se mais gente ajudar.

Jogo rápido, com Antonio Figueiredo

SBF – O BJP sofreu muitas mudanças recentemente. Como você avalia essas transformações?
Figueiredo – As mudanças implementadas no BJP foram profundas. O acordo com a Springer fez com que todo o processo de submissão, revisão e publicação deixasse o caráter artesanal e passasse a ser altamente profissional. A revista é indexada na SCIELO e ISI, e vem galgando importantes degraus no que se refere à sua inserção na Física internacional. A qualidade do material publicado é mantida por meio de uma rígida política editorial que enfatiza a excelência científica.  

SBF – Em sua opinião, qual será o foco da sua gestão como novo editor do BJP?
Figueiredo – O trabalho desenvolvido pelo Professor Luiz Nunes de Oliveira e sua equipe foi excelente. A credibilidade e profissionalismo deram a tônica da editoria. A nova editoria deve seguir, em linhas gerais, a forma de atuação da anterior, procurando aprimorar o processo de revisão do material submetido. Procuraremos incrementar a publicação de artigos de revisão e números especiais temáticos. Esperamos que enfoques como esses tornem a revista ainda mais presente no cotidiano dos pesquisadores tanto no Brasil quanto no exterior.