O CERN, cuja sigla originalmente estava associada a Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire, hoje tem por nome European Laboratory for Particle Physics. Localizado em Genebra, na Suíça, suas instalações são abertas e usadas por mais de 12 mil cientistas de mais de 70 países, com 120 nacionalidades diferentes. Apesar do CERN ser um laboratório europeu, em 2010 ele abriu a possibilidade de outros países aderirem ao laboratório como Países Membros Associados. O CERN tem hoje 23 Países Membros, e 8 Países Membros Associados.
Apesar de ter como foco principal a exploração da ciência básica da estrutura da matéria, o CERN é hoje um dos mais importantes centros de geração de tecnologias no mundo. Para investigar esse diminuto universo, foi desenvolvida uma miríade de tecnologias de fronteira que hoje estão embutidas em produtos que fazem parte de nosso cotidiano. A mais emblemática delas é certamente a web, mas há um sem-número de outros desenvolvimentos que nasceram naquele laboratório europeu, como plásticos para a embalagem de alimentos; aprimoramento de válvulas cardíacas; várias tecnologias para o imageamento para diagnóstico médico; aplicações da tecnologia de aceleradores para tratamentos oncológicos etc.
O CERN é também um centro de treinamento de cientistas e tecnologistas, onde são preparadas teses acadêmicas. Mais da metade dos 12 mil cientistas que usam o laboratório tem menos que 30 anos de idade, e fração significativa deles irá desenvolver suas atividades profissionais fora do ambiente acadêmico. Portanto, não é acidental que os países europeus invistam recursos consideráveis na manutenção e no desenvolvimento das instalações daquele centro de pesquisa.
Hoje, a Ciência e Tecnologia brasileiras têm maturidade suficiente para se beneficiar de uma participação mais intensa nas atividades daquele laboratório, explorando as oportunidades que ele oferece a seus Países Membros. O CERN é um laboratório aberto, e o Brasil tem cerca de 140 pesquisadores, de dezenas de instituições, participando de experimentos lá instalados, com impacto significativo nos indicadores de produção científica do País, medidos por parâmetros internacionais.
No entanto, os desdobramentos dessa produção científica, em grande parte, ainda têm se restringido ao mundo acadêmico. A adesão do Brasil ao CERN como País Membro Associado abrirá oportunidade para que nossas indústrias compitam em processos licitatórios daquele laboratório – o que vai além de simples processos de compra, por envolverem, com frequência, desenvolvimentos tecnológicos e inovação de produtos, atividades feitas de forma colaborativa entre pesquisadores e empresas.
Na semana passada o Sr. Ministro Marcos Pontes fez uma conferência com a Diretora Geral do CERN, Dra. Fabíola Gianotti, reiterando o interesse e apoio do governo brasileiro em completar o processo de adesão do Brasil como País Membro Associado daquela instituição. Foi um passo importante, iniciado pela visita que o Ministro Marcos Pontes fez àquela instituição, acompanhado de vários membros do seu Ministério, no final de junho de 2019. A decisão do Ministro Pontes vem completar um processo iniciado há quase dez anos, quando o CERN admitiu a possibilidade de aceitar países não europeus entre seus associados e imediatamente o Conselho Técnico Científico da Rede Nacional para a Física das Altas Energias propôs ao então Ministro Sérgio Rezende o início deste processo. O Ministro formou uma comissão da qual faziam parte dois físicos e um diplomata, que com o apoio da Missão Permanente do Brasil em Genebra, negociou os passos iniciais deste processo. Pouco depois, O Conselho do CERN enviou uma missão ao Brasil para discussão dos termos da adesão. O processo depois foi sendo adiado em função das dificuldades econômicas do País, até a visita do Ministro Pontes ao CERN.
A adesão também abrirá novas oportunidades para o treinamento e a formação de engenheiros e técnicos em áreas avançadas, como eletrônica, instrumentação, ciência dos materiais, mecânica, criogenia, aceleradores, bem como tecnologia da informação. Permitirá também expandir um programa de grande sucesso — feito em colaboração com Portugal — que é a ‘Escola do CERN’, a qual leva professores de física do ensino médio para passar um período de treinamento no laboratório – com cursos ministrados em português. Mais de 300 professores brasileiros já participaram desse programa.
Por fim, vale ressaltar aqui outro aspecto – cuja mensuração dos benefícios é certamente não trivial: contribuir para o resgate do prestígio científico e tecnológico do Brasil, qualificando suas indústrias com uma chancela de rigor e precisão associada à reputação de um laboratório do mais alto prestígio internacional, ajudando, assim, na retomada de um crescimento econômico sólido e sustentável.
O acima exposto visa a exemplificar e a fornecer, de maneira breve, algumas das razões pelas quais nós consideramos que a adesão do Brasil como País Membro do CERN é estratégica e fundamental para o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia no País.
27 de janeiro de 2021
Ronald Cintra Shellard