Fonte: Portal IFGW/Unicamp

A classe de aula para cursos de graduação em física passou a ser online com a chegada da COVID-19. Diante de um novo cenário acadêmico, as universidades tiveram de escolher se continuariam a dar aulas ou suspenderiam as atividades. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi uma das primeiras a parar e replanejar as aulas de maneira emergencial usando a internet. A Universidade Federal do ABC (UFABC), também optou em oferecer aos estudantes um programa de estudo remoto continuado. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), das 69 universidades federais, 46 estão com todas as atividades suspensas. A informação foi acessada no dia 30 de julho de 2020.

Para informar sobre as federais, o  MEC desenvolveu uma página interativa que possibilita o monitoramento e nela é possível saber a situação de cada uma delas. Dentre todas as universidades federais, consta que somente 15 estão com atividades remotas na graduação. 

As universidades que seguiram com o plano de aulas encontraram muitos desafios a serem vencidos. Nos cursos de física, tanto as disciplinas teóricas quanto aquelas que são experimentais tiveram que ser adequadas para o ambiente virtual de maneira que não acarretasse grande prejuízo para a aprendizagem. Professores tiveram que se adaptar para o uso das plataformas oferecidas pelas universidades, dúvidas surgiram durante esse processo desde manobras menos complexas como anexar arquivos até mais elaboradas como gravar o conteúdo e realizar a disponibilização online. 

O coordenador de graduação do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) da Unicamp, Rickson Coelho Mesquita, falou que a parte mais desafiadora foi a adaptação das disciplinas experimentais. Conforme disse, nos laboratórios mais básicos, no início do curso, os experimentos são relativamente simples. A estratégia foi trocá-los por experimentos que os alunos pudessem fazer em casa. 

Com as disciplinas intermediárias, Mesquita explicou que não é possível os alunos fazê-los em casa. O coordenador contou que muitas vezes quando não se consegue repetir ou adaptar o experimento para fazer em casa, foram utilizados os simuladores. “Então, a gente tem abusado do uso de simulações. Temos usado simuladores que já existiam disponíveis na internet, para por exemplo, fazer coisas de eletrônica. Ao invés do aluno estar fazendo isso presencialmente, ele está simulando esses circuitos na internet.” 

Já as matérias avançadas receberam um tratamento diferenciado para a adaptação, levando em conta que os equipamentos usados são caros e inviáveis de serem usados diante da atual situação. “Para esses cursos mais avançados o que aconteceu foi que os professores foram para o laboratório na universidade, durante a pandemia e gravaram vídeos e os dados, fizeram os experimentos e disponibilizaram os dados para os alunos fazerem a parte de análise experimental e interpretação dos resultados”, disse Mesquita.  

O coordenador do bacharelado em física da UFABC, Eduardo Peres Novais de Sá, falou que as aulas emergenciais foram pensadas de forma conjunta com os professores do curso. Eles opinaram e sugeriram como deveria seguir o trabalho com os alunos. “As disciplinas foram divididas em: básicas, intermediárias, avançadas e aquelas que possuem o componente experimental e as que não têm componente experimental. As disciplinas avançadas experimentais, nós cancelamos porque demandam em todas as aulas o material do laboratório avançado”, explicou Novais. 

Outros problemas ainda precisavam ser resolvidos. Existem estudantes que não possuem acesso à internet de qualidade ou não têm um computador para assistir as aulas, dentre outras dificuldades. Os alunos da física da Unicamp puderam usar os laptops da graduação. Quanto à UFABC, todos os estudantes entram no bacharelado interdisciplinar e depois é que escolhem o curso a ser seguido. Os alunos que se identificam com física estão no final do segundo ano. Conforme o coordenador  explicou, ele realizou uma pesquisa na qual a maioria deles disse que não tinha problema em ter um celular, ter uma conexão ou um ter um computador. “O maior problema que eles identificaram foi lugar para estudar, porque dividem o computador com alguém, não têm um lugar em casa para estudar, têm que ajudar a família, então essas dificuldades foram que os alunos do bacharelado identificaram.”, disse Novais. 

A carga de estudo passou a ser maior e isso trouxe queixas dos alunos. Eles relatam que estão sobrecarregados, além de outras questões que surgiram em relação às plataformas utilizadas. Ambos os coordenadores disseram que aconselharam os discentes a não se matricularem em todas as disciplinas disponíveis do curso, mas sim em apenas algumas para evitar uma demanda demasiada de tarefas. A experiência deles, nesse caso, se concretizou como realidade, já que as atividades passaram a ser mais intensas do que em sala de aula. No modelo emergencial de estudo é necessário que os estudantes precisem comprovar frequência por meio de entrega de atividades. 

A aplicação de avaliação foi outro desafio a ser vencido. A tradicional prova de sala de aula acabou sendo substituída por modelos à distância, como trabalhos e outras atividades que pudessem ser realizadas durante o período letivo. “Todo mundo está acostumado a fazer provas presenciais e essa tem se mostrado a pior forma de se avaliar os alunos no modelo remoto”, explicou Mesquita. Na UFABC, o coordenador Novais falou que as regras da universidade proíbem que as avaliações sejam síncronas. “As avaliações devem ser assíncronas, o professor pode fazer um banco de questões ou um trabalho”. Nas duas universidades, cada professor ficou livre para escolher a melhor plataforma para dar aulas e o método que usaria para aplicar avaliações. 

As experiências descritas pelos coordenadores são de grande valia para o próximo período letivo. Os pontos a serem melhorados são tidos como um novo desafio para os professores e alunos quando as aulas forem retomadas. A SBF se coloca à disposição para a criação de um fórum para discussões e trocas de experiência em ensino remoto.

Por Joice Santos
Bolsista Mídia Ciência – FAPESP

Processo 2019/02744-3