Pesquisadores e estudantes puderam assistir quase uma centena de apresentações orais em inglês

Avanços em todas as áreas da física de altas de energias, da cosmologia às partículas elementares, foram apresentados esta semana no XXXIX Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos, em Campos do Jordão, São Paulo. Entre os dias 24 e 28 de setembro, 21 convidados nacionais e internacionais, e mais cerca de 200 pesquisadores e alunos de todas as regiões do país tiveram a oportunidade de apresentar trabalhos, aprender mais sobre áreas fora de suas especialidades, além de poder discutir os resultados de alguns dos principais experimentos de altas energias — ATLAS, NOvA, DUNE, Pierre Auger, CTA, Euclid, LIGO e outros — diretamente com membros de suas colaborações internacionais.

“O encontro é uma oportunidade de aumentar a cultura geral e de se manter informado sobre o que os pesquisadores em outras áreas da física de altas energias estão fazendo no Brasil e no mundo”, diz Ricardo Matheus, do Instituto de Física Teórica (IFT) da UNESP e coordenador do comitê organizador do evento, que contou com 93 apresentações orais e 139 apresentações de pôsteres. “Também é uma oportunidade para os alunos de mestrado e doutorado ganharem experiência em fazer apresentações em inglês.”

Uma das convidadas de destaque foi a física Graciela Gelmini, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Estados Unidos. A pesquisadora apresentou os desafios enfrentados pelos experimentos buscando detectar diretamente as partículas que compõem a chamada matéria escura, a forma mais abundante de matéria do Universo, cuja composição ainda é um completo mistério.

Encontro abriu com palestra de Vitor Souza, físico do IFSC-USP , da colaboração internacional CTA

Outro destaque foi a palestra do cosmólogo Luca Amendola, da Universidade de Heildelberg, Alemanha. Amendola faz parte do grupo de teóricos da missão Euclid, da Agência Espacial Europeia. Previsto para ser lançado em órbita em 2021, o Euclid será um telescópio espacial capaz de obter imagens de aglomerados de galáxias com resolução muito superior aos telescópios atuais. Essa alta resolução permitirá aos cosmólogos verificarem hipóteses sobre a natureza da energia escura, a forma de energia mais abundante do Universo, e verificar se a força gravitacional se comporta diferente do que prevê a Teoria da Relatividade Geral de Einstein em escalas cosmológicas.

Amendola também participou de um debate com Riccardo Sturani, especialista em ondas gravitacionais do Instituto Internacional de Física (IIF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e com Reinaldo de Carvalho, astrofísico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e presidente da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB). Carvalho falou sobre os preparativos para as comemorações do centenário da expedição da Royal Astronomical Society que observou o eclipse solar de 1919, em Sobral, Ceará, e acabou obtendo uma das primeiras comprovações da Teoria da Relatividade Geral. Os debatedores conversaram com a plateia sobre como a participação dos pesquisadores brasileiros na física e na astronomia avançou desde 1919, e quais os problemas na educação superior e na avaliação da pesquisa científica nacional que continuam atrapalhando seu desenvolvimento.

Luca Amendola, Riccardo Sturani e Reinaldo de Carvalho discutiram a situação da pesquisa nacional em astrofísica e gravitação

Heather Gray, física do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, Estados Unidos, apresentou as últimas novidades sobre os bósons de Higgs produzidos no acelerador LHC, entre elas a comprovação pelos experimentos ATLAS e CMS do decaimento do Higgs em quarks bottom, confirmando as previsões do Modelo Padrão. Gray ganhou o Prêmio Jovem Cientista 2018 de Partículas e Campos da União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP) por suas pesquisas com o bósons de Higgs na colaboração ATLAS.

O evento também trouxe uma apresentação de divulgação científica para os estudantes de escolas da região de Campos do Jordão. Renata Funchal, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), contou a história do mistério dos raios cósmicos, desde a sua descoberta, em 1912, até a surpreendente observação do telescópio de neutrinos IceCube, divulgada em julho deste ano, que parece finalmente ter resolvido o mistério de sua origem.