Com grande tristeza cumprimos o dever de informar o falecimento precoce, no último dia 8 de maio, do nosso colega e amigo Carlos Seihiti Orii Yokoi (1954 – 2017), após longo período de enfermidade. Carlos Yokoi era bacharel (1976), mestre, doutor (1982) e livre-docente pelo Instituto de Física da USP. Ele fez parte de um grupo teórico pioneiro na área de física estatística no IFUSP. Carlos era reservado, um tanto tímido, mas os seus alunos e colaboradores rapidamente percebiam que era uma pessoa muito culta, às vezes irônica, e um pesquisador de excepcional qualidade. No final da década de 1970, os recursos para deslocamentos no Brasil eram mais escassos. No material deixado pelo Carlos nós encontramos uma cópia da programação e das suas notas sobre o “1.o Encontro de Física do Recife”, realizado em janeiro de 1979, que foi um dos precursores dos nossos atuais encontros de matéria condensada. Carlos Yokoi e Jürgen Stilck, que eram colegas de graduação e pós-graduação no IFUSP, fizeram uma viagem memorável, de ônibus, para estreitar a nossa colaboração com o “pessoal de Maurício Coutinho”. No início da sua carreira, Carlos passou dois anos em Carnegie-Mellon. Robert Griffiths, que foi seu supervisor, em certa ocasião nos disse que era necessário transpor uma certa barreira inicial, mas que o ganho era enorme em todas as interações com o Carlos. Durante a sua carreira, Carlos teve uma participação essencial em diversos trabalhos sobre sistemas de spins com interações competitivas, contribuindo para desvendar os diagramas de fase mais espetaculares da literatura. Interessou-se também pelas soluções exatas em redes bidimensionais. Talvez tenha sido o único brasileiro que foi coautor de um artigo de revisão, sobre modelos de dímeros em redes anisotrópicas, na série conhecida de Domb e Green sobre transições de fase e fenômenos críticos. Fez visitas curtas ao Japão – conhecia bem a cultura japonesa – e à França. Mais recentemente, Carlos se interessou por diversos aspectos do problema dos modelos de vidros de spin, que rondou a nossa área teórica durante muitos anos. Em colaboração com alunos e colegas, publicou diversos artigos sobre propriedades de sistemas desordenados. Mas Carlos era muito exigente, publicava pouco, e acabou deixando muitas anotações inéditas e esparsas. Em determinado momento ele tinha os melhores cálculos para a entropia no estado fundamental das soluções do modelo de vidros de spins de campo médio em diversos cenários de quebra de simetria de réplicas, mas esse trabalho nunca foi publicado. Além de cientista de alto calibre, é importante registrar que Carlos era um ótimo professor. As suas aulas, a sua organização didática, eram apreciadas por todos os nossos alunos, em algumas disciplinas mais avançadas, mas também nas disciplinas de física básica, às quais ele se dedicava com muita energia. Vai ser muito difícil preencher o vácuo deixado por uma pessoa tão especial.
18 de maio de 2017
Silvio R. A. Salinas, Instituto de Física, Universidade de São Paulo