Um dos fenômenos mais interessantes da física de matéria condensada, com um grande potencial de aplicações práticas, é o da supercondutividade. Um material é supercondutor quando uma corrente elétrica pode fluir por ele sem resistência, e essa propriedade está atrelada a aplicações que vão desde trens levitantes até máquinas de ressonância magnética.

Na maioria dos materiais, as propriedades supercondutoras só se revelam a temperaturas muito baixas, próximas do zero absoluto. Mas, aos poucos, os físicos têm descoberto arranjos “não convencionais”, assim chamados por não obedecerem à teoria clássica de supercondutividade, conhecida pela sigla BCS e formulada nos anos 1950 pelos físicos John Bardeen, Leon Cooper e Robert Schrieffer. Alguns desses supercondutores não convencionais são capazes de exibir essa propriedade a temperaturas mais altas.

Agora, um novo trabalho dos pesquisadores Tobias Micklitz, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, e M.R. Norman, do Laboratório Nacional de Argonne, nos Estados Unidos, promove avanços teóricos na compreensão dessa classe mais interessante de supercondutores.

O que a dupla fez, em artigo publicado no “Physical Review Letters” em 18 de maio, foi desenvolver uma classificação para supercondutores não convencionais, baseados nas simetrias da chamada função do gap da supercondutividade, que está relacionada com a temperatura crítica em que o comportamento supercondutor passa a se manifestar.

“A identificação experimental das simetrias corretas nem sempre é uma tarefa fácil”, explica Micklitz. “A função do gap de alguns supercondutores não convencionais é, portanto, muito debatida, e ter uma orientação teórica é importante.”

“Existe um teorema bastante influente (teorema de Blount) que, em alguns casos, contradiz experimentos, e em nosso trabalho reexaminamos cuidadosamente esse teorema”, completa o pesquisador do CBPF. “Fornecemos fórmulas simples que permitem identificar facilmente um material supercondutor com funções do gap interessantes. Esperamos que esses resultados possam lançar luz sobre as simetrias da função de gap entre alguns supercondutores conhecidos e alguns ainda a ser descobertos.”

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