O Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF) celebra, em 2025, seus 12 anos de história, consolidando-se como um marco na formação continuada de professores de Física da Educação Básica. Idealizado pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) em 2011, o programa foi oficialmente implementado em 2013 e se destaca pelo modelo de rede colaborativa que integra atualmente 61 polos distribuídos em todos os Estados do Brasil. Nesse período até 2022, segundo o Relatório de Gestão da SBF, o MNPEF titulou mais de 2.300 professores e conta com 1.632 mestrandos matriculados e 835 docentes formadores.
Para comemorar a data, os professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Douglas Grando de Souza, Ives Solano Araújo e Eliane Angela Veit, escreveram o artigo “Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física: Um Retrato Histórico”, que foi publicado no periódico Cadernos de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física da UFRGS, volume 2. Os organizadores de todo o trabalho, que soma 295 páginas, são os professores Angela Veit, Claudio José de Holanda Cavalcanti e Tobias Espinosa.
“A narrativa aqui apresentada propõe uma compreensão da criação do MNPEF e de sua estrutura, não sendo uma história única nem definitiva. Também não se encerra em si. Em agosto de 2025, o programa completará doze anos de existência e segue sendo uma opção para muitos professores(as) que, por diferentes motivos, buscam realizar uma pós-graduação. O MNPEF tem, nesse período, ganhado espaço e mobilizado uma grande quantidade de atores interessados no Ensino de Física”, explicam os autores.
De acordo com o artigo, a proposta do MNPEF reflete avanços no número de mestrados profissionais no Brasil, uma modalidade formalizada em 1995 por meio de reformas lideradas pela CAPES sob a gestão de Abílio Beata Neves. Essas reformas buscaram flexibilizar o modelo tradicional de pós-graduação, criando programas que combinassem pesquisa científica e prática profissional. A iniciativa não apenas atendeu às demandas por qualificação profissional, mas também fomentou o desenvolvimento de produtos e processos educacionais diretamente aplicáveis ao contexto escolar.
O MNPEF é caracterizado por uma abordagem que alia profundidade teórica a uma prática pedagógica inovadora. O currículo exige a integralização de no mínimo 32 créditos, divididos entre disciplinas obrigatórias e optativas, como Termodinâmica, Eletromagnetismo e Fundamentos Teóricos em Ensino. Além disso, cada mestrando deve desenvolver um produto educacional associado à dissertação, que combine conhecimento teórico com soluções práticas para o ensino de Física.
Pulsos de educação
Os produtos educacionais são sempre marcados pela originalidade e estímulo aos estudantes, como tem apurado a reportagem do Boletim SBF. Como exemplo, o professor de física, músico e divulgador científico Lucas Ferreira, de 32 anos, desenvolveu no seu mestrado em 2023 no Polo 01 do MNPEF, na Universidade de Brasília (UnB), o Pulsar 3D, um simulador 3D sobre a dinâmica e características de um pulsar, que pode ser acessada através de smartphones, tablets e computadores. Um pulsar é uma estrela de nêutrons altamente magnetizada em alta rotação que emite feixes regulares (pulsos) de radiação eletromagnética. Esta simulação oferece uma experiência visual e educacional única para explorar as características e dinâmicas desses fascinantes objetos astronômicos.
A simulação em ambiente 3D e interativa foi construída na linguagem JavaScript e seu código-fonte está alocado em um repositório do GitHub, onde toda a documentação pode ser visualizada e está aberta aos professores e à comunidade. A simulação Pulsar 3D já está disponível para ser utilizada em sala de aula e pode ser acessada através de uma página do próprio GitHub: Pulsar 3D.
A simulação Pulsar 3D faz parte de uma sequência didática para o ensino de física e astrofísica nos anos finais do ensino fundamental e também no ensino médio. A sequência didática intitulada “Dos Leds aos Pulsares: Uma Sequência Didática Imersiva para o Ensino de Física e Astrofísica no Ensino Fundamental e Médio”, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Vanessa Carvalho de Andrade (UnB/IF/MNPEF), contará com um material direcionado ao professor, com um experimento sobre pulsares e circuitos eletrônicos simples, análise de vídeo com software de análise de vídeo e uso de tecnologias em sala de aula, incluindo o uso do simulador interativo Pulsar 3D. A dissertação e o produto educacional estão na etapa de defesa e até março estarão disponíveis para os professores e toda a comunidade no site do MNPEF UnB, na aba dissertações.
O programa do MNPEF também se destaca pela abrangência de sua rede e pela qualidade de sua organização. Cada polo regional, vinculado a instituições de ensino superior, funciona em estreita articulação com a coordenação nacional, garantindo a padronização e a qualidade das atividades. A ênfase na produção de pesquisas translacionais é um diferencial, pois aproxima os avanços acadêmicos da realidade educacional.
Evolução e Desafios
O surgimento do MNPEF está intrinsecamente ligado à evolução dos mestrados profissionais no Brasil. Desde a criação do Sistema Nacional de Pós-Graduação nos anos 1960, o país experimentou um crescimento exponencial no número de cursos e na diversidade de suas modalidades. A instituição da modalidade profissional trouxe à tona debates sobre qualidade e relevância, que culminaram na elaboração de critérios rigorosos de avaliação pela CAPES.
Embora o MNPEF tenha conquistado ampla aceitação, não esteve isento de controvérsias. Desde sua concepção, enfrentou críticas de setores acadêmicos que questionaram sua estrutura centralizada e a pouca participação de pesquisadores na elaboração inicial. Uma dessas críticas veio de professores do Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF), que reagiram com preocupação diante da falta de envolvimento mais amplo da comunidade acadêmica. “Foram apontados problemas como: (1) a pouca contribuição de representantes da área de pesquisa na elaboração da proposta e a consideração de haver uma extrapolação dos limites de contribuição da SBF ao assumir centralidade na oferta de uma política de formação docente em nível nacional sem fomentar maior diálogo com seus membros,” informa o artigo.
No entanto, essas questões foram abordadas com diálogo e ajustes ao longo do tempo. A coordenação do MNPEF implementou melhorias no modelo de governança e estreitou laços com a comunidade acadêmica, o que resultou em um programa mais inclusivo e alinhado às necessidades dos docentes da Educação Básica. “Essas mudanças fortaleceram o MNPEF, transformando-o em uma referência para a formação continuada de professores,” diz o artigo.
Perspectivas
O MNPEF caminha para consolidar ainda mais sua relevância no panorama educacional brasileiro. Com o avanço das tecnologias digitais e a crescente demanda por formação continuada de qualidade, o programa tem a oportunidade de expandir seu impacto, promovendo a capacitação de professores para atender às demandas da Educação Básica em contextos diversos.
Enquanto isso, permanece o desafio de medir e aprimorar o impacto do MNPEF na prática docente e no aprendizado dos estudantes, uma questão que segue no radar dos pesquisadores da área. Os 12 anos de história do MNPEF são, sem dúvida, um testemunho de como a colaboração institucional e a inovação podem transformar a educação em Física no Brasil. “O olhar histórico que apresentamos contribui para a compreensão de como o passado está presente no MNPEF e, com isso, pode auxiliar na interpretação de avaliações já realizadas e amparar novas investigações sobre o programa. A narrativa apresentada é, também, um convite para que novas histórias sejam contadas”, concluem os autores, sob o subtítulo provocativo de reflexões batizado de “Inconclusão”.
(Colaborou Roger Marzochi)