A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em Belém (PA) entre os dias 10 a 21 de novembro de 2025, será uma das reuniões mais importantes da Conferência das Partes do Acordo Climático dos últimos dez anos. A opinião é do físico Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e conselheiro da Sociedade Brasileira de Física (SBF), membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que integrou a equipe de cientistas que recebeu o Prêmio Nobel da Paz (2007).

Durante a 29ª COP, que está ocorrendo em Baku, no Azerbaijão, a ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva, e o governador do Pará, Élder Barbalho, participaram de um lançamento do encontro que ocorrerá no Brasil no próximo ano, a COP 30.

“A razão da grande importância da COP 30 é que até fevereiro todos os países signatários da Convenção do Clima serão obrigados a refazer as suas obrigações voluntárias de redução de emissões, tendo em vista a necessidade de limitar o aumento da temperatura média em 1,5°. Todos os países deverão colocar novas estimativas de redução de emissões”, explica Artaxo, em entrevista ao Boletim SBF.

É por isso que Marina Silva, em entrevista à Folha de S. Paulo, afirmou que se a COP 29 é a do “financiamento”, a COP 30 será da “implementação, implementação e implementação”, a COP das COPs. Os mais de 190 países integrantes da Convenção Climática (UNFCC) são obrigados a refazer seus compromissos de redução de emissões, de acordo com os protocolos do Acordo de Paris.

Professor Paulo Artaxo  na COP 29 no Azerbaijão.

Na reunião neste ano, o cientista brasileiro avalia que, apesar da vitória eleitoral de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, que se coloca como um negacionista do clima, as negociações deverão continuar. Mas há um consenso entre os países de que se os norte-americanos se retirarem das negociações, o espaço poderá ser ocupado pela China, União Europeia e até pelo Brasil, como potência emergente.

Artaxo explica que, certamente, as declarações de Trump que deve retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris farão com que o país fique isolado no cenário internacional. “A gente sente que aqui na COP está emergindo um sentimento de simplesmente deixar os Estados Unidos de lado e vamos seguir numa trajetória com todos os demais países do mundo a construir uma economia mais eficiente, menos dependente de emissões de carbono, já que esse é o único caminho para construir uma sociedade que seja minimamente sustentável. Possivelmente o isolamento dos Estados Unidos pode ser extremamente prejudicial para eles próprios. Mas isso também vai dar mais espaço internacional a ser ocupado pela China e pela União Europeia e inclusive pelo Brasil, como país emergente. Os Estados Unidos certamente vão ter muito a perder com o aumento do isolacionismo internacional”, afirmou o cientista, que está participando da COP 29, em Baku, Azerbaijão.

A expectativa de Artaxo é que a reunião em Baku deverá apresentar avanços na questão do financiamento climático dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento. “As conversas começaram há muitos anos atrás, mas foram catalisadas na última COP em Dubai, e com isso a gente pode esperar que irão fluir recursos dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento a fim de ajudarem a reduzir as suas emissões, fazer a sua transição energética e, ao mesmo tempo, se adaptar ao novo clima, já que bilhões de pessoas serão afetadas pelas mudanças climáticas, em particular pelo aumento dos eventos climáticos extremos. Então, isso também é uma questão que vai evoluir aqui em Baku e, provavelmente, a COP30 no Brasil irá sacramentar estas questões sobre a questão do financiamento climático, além de avançar na necessária redução de emissões de gases de efeito estufa.”

(Colaborou Roger Marzochi)