Registro pessoal durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023.

Junto a outros cientistas, Artaxo esteve na reunião ministerial no Palácio do Planalto na segunda e na reunião entre os líderes dos três poderes convocada por Lula na terça-feira.

Os incêndios sem precedentes na história recente do Brasil levaram o governo federal a realizar um amplo debate entre segunda e terça-feira, reunindo todos os ministros e os líderes dos três poderes. O físico Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e conselheiro da Sociedade Brasileira de Física (SBF), participou ativamente dessas reuniões, junto a outros cientistas. Artaxo é membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e integrou a equipe de cientistas que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2007. Ele integra ainda a coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

Nesta quarta-feira, dia 18 de setembro, o governo federal anunciou um crédito extraordinário de R$ 514 milhões para o combate dos incêndios recordes em decorrência da seca prolongada e, possivelmente, de ações criminosas. O governo prevê reformular a Defesa Civil em até dois meses, comprar aviões de combate à incêndios, elevar o número de brigadistas e fortalecer a Força Nacional.

Os incêndios, no entanto, não estão restritos ao Brasil, pois as florestas ardem em chamas na América do Sul, do Norte até a Europa, que também convive com enchentes em sua região central, como ocorreu neste ano em Porto Alegre. Esses já são os eventos extremos no clima da Terra que crescem em frequência e intensidade em decorrência do avanço do aquecimento global. E, por essa razão, Artaxo e os cientistas presentes nas reuniões apresentaram sugestões ousadas e extremamente importantes para frear ao menos o ritmo das mudanças climáticas.

“Na segunda-feira (16 de setembro) participei da reunião do Conselho Político com Lula, ministérios, CGU e IBAMA, etc. Apresentei o que a Ciência pode sugerir como medidas para conter a emergência climática e lidar com as queimadas no país todo. Também como o país pode explorar nossas vantagens estratégicas na questão ambiental, e lidar com nossas vulnerabilidades. Foi muito bom, pois a crise climática bateu forte no governo”, revelou Artaxo em post no Facebook, no qual informou que na terça-feira participaria da reunião dos três poderes convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É muito evidente para a ciência, que alerta a sociedade e os governos, há várias décadas, de que os eventos climáticos extremos vão aumentar de frequência e de intensidade, conforme aumenta a temperatura do planeta”, afirma. “Como nada foi feito do ponto de vista de redução de emissão de gases de efeito estufa, o que estamos observando, de uma maneira muito clara, não só no Rio Grande do Sul, não só no Brasil, mas mundialmente falando, é um aumento muito forte da frequência e da intensidade dos eventos climáticos extremos”, afirmou o cientista em reportagem do Boletim SBF que repercutiu as enchentes no Sul do Brasil.

Principais sugestões dos cientistas

  • Eliminar o desmatamento na Amazônia e demais biomas até 2030
  • Todos os desmatamentos (legais e ilegais). Lembrar que o Código florestal foi feito antes de termos essa situação emergencial do clima
  • Ações fortes de combate aos crimes ambientais, especialmente na Amazônia
  • Seguir uma trajetória de acabar com a exploração de petróleo no Brasil e usar o protagonismo na COP-30 para pressionar os demais países a seguir na mesma trajetória
  • Acelerar a transição energética com investimentos maciços em energias renováveis (geração solar e eólica, biomassa, hidrogênio verde, etc, tornando o país líder mundial em energias renováveis
  • Acelerar o programa de agricultura e pecuária de baixo carbono
  • Investir fortemente em estratégias de adaptação ao novo clima, em áreas urbanas, rurais e setores produtivos, tendo redução de desigualdades sociais como aspecto central
  • Estruturar a Autoridade Climática na coordenação, regulação e fiscalização de ações integradas entre instituições de estado em níveis federal, estadual e municipal
  • Fortalecer ações de agentes financeiros (ministério da Fazenda, BNDES, etc) criando mecanismo de investimentos robustos e verificáveis na Economia Verde, transformando cadeias produtivas
  • Investir na Ciência de Adaptação e Mitigação Climática para encontrar as melhores saídas para o Brasil. Em geral, soluções do exterior não servem para o nosso país
  • Reforçar em muito, mais que dobrar ou triplicar, o orçamento do IBAMA, PrevFogo, ICMBio, Cemaden, Inpe e os institutos do MCTI, para que eles tenham condições de auxiliar o país nestas situações

(Colaborou Roger Marzochi)