Nuvens de Palavras geradas a partir da análise de mais de 2,8 mil artigos da RBEF.
Nuvens de Palavras geradas a partir da análise de mais de 2,8 mil artigos da RBEF.

Em artigo publicado na revista em agosto, o novo Editor-Chefe, Prof. Marcello Ferreira, relata estudo em 2,8 mil textos e apresenta desafios editoriais do periódico.

A Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF), uma publicação científica da Sociedade Brasileira de Física (SBF), completa 45 anos em 2024. E, para comemorar a data, o físico Marcello Ferreira, professor e vice-diretor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (IF-UNB) e ex-Pró-Reitor de Pós-Graduação da Sociedade Brasileira de Física (SBF), novo Editor-Chefe da RBEF, realizou estudo científico de Análise de Conteúdo de 2.873 textos, o total de publicações entre 1979 e 2024.

Foto de busto do professor Marcello Ferreira, homem branco, calvo, de terno preto e gravata vermelha.
Marcello Ferreira, professor e vice-diretor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (IF-UNB) e ex-Pró-Reitor de Pós-Graduação da Sociedade Brasileira de Física (SBF), novo Editor-Chefe da RBEF

O resultado do trabalho pode ser conferido no artigo “Os 45 anos da Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF): retrospectiva, análise e novos horizontes”, publicado no periódico no dia 23 de agosto. “A análise empreendida deixou muito claro que a revista seguiu as suas diretrizes, que é trabalhar com física e a perspectiva de seu ensino com qualidade. Ela tem um papel importante em discutir a área da física experimental, mas também faz um significativo debate na área da física teórica”, diz Ferreira, em entrevista ao Boletim SBF. “A revista é um patrimônio e um legado da física brasileira e da SBF, tendo um compromisso muito forte com física, teórica e experimental, e com o seu ensino. Depois, considero que ela resguarda uma dimensão de qualidade muito cara aos leitores e autores que a ela creditam seu interesse e respeito. Sua marca é muito forte e respeitada na comunidade, com uma associação muito clara com a SBF e ao regime de qualidade historicamente a ela imposto pela Sociedade, o que amplifica a sua legitimidade.”

A técnica utilizada pelo professor Ferreira tem como base o arcabouço teórico da francesa Laurence Bardin que, com sua obra “Análise de Conteúdo”, publicada em 1977, tornou-se uma referência essencial para pesquisadores que utilizam métodos quanti-qualitativos para investigação em volumes significativos de textos, oferecendo uma abordagem detalhada e estruturada para analisar dados complexos em várias áreas do conhecimento. Essa técnica de pesquisa visa sintetizar, categorizar, classificar, hierarquizar, correlacionar, interpretar e inferir significados do conteúdo de comunicações, como textos, discursos, imagens ou demais documentos. A Análise de Conteúdo de Bardin é amplamente utilizada para identificar padrões, categorias e ênfases no interior de um corpus, permitindo compreensão profunda dos significados e das mensagens subjacentes.

A partir do software Alceste, que realizou relações de proximidade e distâncias semânticas entre as palavras de 146 números da revista, incluindo números anuais, suplementares e textos em fluxo contínuo, sistemática que entrou em atividade a partir de 2020, Ferreira identificou unidades textuais de duas classes principais: Ensino de Física e Conteúdos de Física. Esses dois grupos foram subdivididos em seis subclasses, revelando um amplo panorama das temáticas e metodologias abordadas na publicação, desde o relato de experimentos científicos, passando por abordagens epistemológicas e conectando-se a práticas típicas do ensino da física na Educação Básica e Superior. 

A revista, que foi liderada nos últimos 15 anos pelo Prof. Silvio Salinas, proeminente pesquisador, professor aposentado do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), tem cerca de 200 mil acessos por mês e conta com apoio editorial da ScIELO, avaliada como A1, o estrato superior do Qualis. A RBEF é uma publicação de grande relevância no Brasil e na América Latina, sendo frequentemente citada em bibliografias de cursos de graduação e pós-graduação em Física e Ensino de Física. A RBEF desempenha um papel crucial na formação e atualização de bacharéis, licenciados e pós-graduados, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da docência na área.

“A revista teve editores de altíssimo reconhecimento ao longo da história, como é o caso dos professores Nelson Studart e Sílvio Salinas, tem um número muito grande e regular de publicações, é recorrentemente presente em ementas e bibliografias de cursos superiores de graduação em Física, tanto bacharelado, quanto licenciatura. Portanto, tem ajudado na formação de físicos e professores de física. É uma revista bem posicionada em termos de qualidade e indexação no Brasil, na América Latina e mesmo no contexto mundial”, afirma Ferreira.

Ferreira avalia que, mesmo com uma posição importante no meio acadêmico, é possível aprimorar ainda mais a revista. Nas políticas editoriais, ele buscará reforçar as diretrizes da publicação, atualizar Conselho Científico e as editorias associadas, criar uma editoria honorífica, ampliar o número de publicações, o alcance, a visibilidade e efetividade da revista, inclusive com recurso à criação de mídias sociais e desenvolvimento de comunicação científica associada aos conteúdos veiculados. A segunda linha de atuação é a da indução de enfoques, explica o professor.

“O estudo que eu fiz revelou que a revista tem alguns enfoques já muito bem constituídos, mas outros que fazem parte da tradição moderna da pesquisa e ensino de física não são tão frequentes. Por exemplo, artigos que discutem física computacional, temas de fronteira em física, epistemologia e algumas efemérides de alta relevância”, explica.  “Além disso, reflito sobre a relevância de investir em números suplementares para temas que estão à margem, dando espaço a assuntos, métodos e problemáticas que usualmente não figuram entre aqueles preferenciais de periódicos especializados na área de física e seu ensino. Por exemplo, perspectivas antirracistas, estudos de gênero, políticas públicas, avaliação e pesquisas translacionais em física. Ao identificar a carência em debater esses temas, é possível convidar pesquisadores especializadas e incumbi-los de articular publicações que contribuam nessas áreas.”

E, em terceiro ponto, dá-se destaque à questão da indexação. Ferreira reconhece que a RBEF é já bem posicionada no cenário nacional e da América Latina, sobretudo se considerados os desafios de difusão da produção acadêmica predominantemente em língua portuguesa, mas considera que é possível melhorar. Para isso, buscará reforçar as publicações em língua inglesa, atualizar o site e o sistema de busca da revista, revisar repositórios, trabalhar nos elementos que são utilizados pelas diversas métricas contidas nos indexadores internacionais. “Isso para que a revista aumente o seu fator de impacto e o seu fator h-5”, explica o professor, “cumprindo mais e melhor suas diretrizes, alcançando públicos ainda mais amplos e sendo cada vez mais referência a pesquisadores e professores de física do Brasil e do mundo”. Em seu artigo publicado na RBEF, Ferreira detalha de maneira aprofundada os seus desafios frente à publicação. A SBF, ressaltando a relevância da revista e o apoio à transição em curso, aposta na manutenção e ampliação da qualidade, do impacto e da relevância da revista dentro e fora do Brasil.

Colaborou Roger Marzochi)