A física Natália Salomé Móller posando com sua premiação do Prêmio L'Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência, na Eslováquia.
A física Natália Salomé Móller posando com sua premiação do Prêmio L'Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência, na Eslováquia.

Nascida em Belo Horizonte, Natália Salomé Móller é uma das jovens cientistas pioneiras no estudo da interface da informação quântica com gravidade.

A cientista brasileira Natália Salomé Móller venceu o prêmio L’Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência na Eslováquia, país no qual mora desde 2021, atuando no Research Center for Quantum Information na Slovak Academy of Sciences, em Bratislava. O prêmio foi entregue em cerimônia realizada no dia 20 de junho, que lhe garantiu 7 mil euros. O sonho dessa jovem cientista é, no longo prazo, voltar ao Brasil para estimular a carreira de meninas e mulheres na Física e nas ciências exatas enquanto professora e pesquisadora teórica de sua área de especialidade: interface da informação quântica com gravidade, que seria o estudo da gravitação quântica em baixas energias.

“Aqui tem muito mais investimento, tem muito mais oportunidade para crescer. Só que aqui já está pronto, sabe? Eu quero estar em contato com estudantes brasileiros, não quero crescer sozinha. Eu quero trazer as mulheres, as meninas brasileiras comigo, aliás, estudantes de qualquer gênero. De tantas questões que a gente vem vivendo contra os direitos das mulheres, ser uma professora no Brasil é ser resistência”, afirmou a cientista em entrevista ao Boletim SBF. “Muito provavelmente eu não vou mudar o Brasil, mas eu posso influenciar um estudante aqui, outro ali. Que eu possa, pelo menos, ser um exemplo para várias meninas que queiram seguir ciências e engenharias em geral. E o Brasil não é um país em que eu vou ficar sem fazer pesquisa de alta qualidade.”

A física Natália Salomé Móller, ao lado da plotagem anunciando sua premiação no Prêmio L'Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência , na Eslováquia.
A física Natália Salomé Móller, ao lado da plotagem anunciando sua premiação no Prêmio L’Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência , na Eslováquia.

A trajetória de Natália não deixa de ser pura inspiração para as mulheres cientistas. Ao descobrir sua paixão pela Física no Ensino Médio, aos 17 anos, ela resolveu até tatuar nas costas uma antiga imagem do modelo atômico, com as suas órbitas. “Eu amava muito Física, sabe? Então, eu achava legal ter uma tatuagem. Eu já sabia que gostaria de cursar Física na faculdade, mas é claro que eu não sabia se realmente seguiria na carreira. Mas eu queria tatuar esse momento de amor que eu tive pela Física, porque foi onde eu me encontrei, é onde a mágica existe para mim”, afirma.

“Quando eu vejo uma equação que descreve um objeto físico é muito maravilhoso. E mais, a gente cria tecnologia com isso. É como se eu tivesse uma alma, que seria esse conceito físico, que ganha um corpo, que seria a tecnologia. Então, pra mim, isso é uma coisa muito maravilhosa da Física. Não era só uma carreira, era uma forma de ver o mundo. O átomo, pra mim, significa uma forma de ver o mundo, uma forma de enxergar como que a natureza é muito legal”, completa.

E sua trajetória quase sempre seguiu o seu coração. Nascida em Belo Horizonte, ela se formou em Física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2010. Entre 2011 e 2013, fez o mestrado em Matemática, sob a orientação de Marcos da Silva Montenegro, na mesma universidade, em busca de se aprofundar em uma área da matemática denominada geometria Riemanniana, que é a base da Relatividade Geral de Albert Einstein. “Foi maravilhoso”, diz a cientista, que em seguida passou um ano e meio fazendo matérias isoladas na UFMG e lecionando na instituição, até se apaixonar pela Informação Quântica durante o seu doutorado, entre 2014 e 2018, sob orientação de Raphael Campos Drumond.

Ao final do doutorado, Natália se encaminhou para o primeiro dos seus três pós-doutorados na Technische Universität Kaiserslautern (TUKL), na Alemanha, financiada pela agência de fomento brasileira CAPES, onde ficou por um ano e meio. Lá, ela fazia pesquisa em Condensados de Bose-Einstein, com o objetivo de descrever, teoricamente, experimentos que estão sendo realizados em um laboratório de átomos frios na Estação Espacial Internacional da NASA. Era uma pesquisa em física quântica, envolvia geometria, mas não envolvia gravidade, que era seu sonho. Por orientação do professor Júlio Fabris, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), ela buscou estudar simulações de buracos negros utilizando condensados de Bose-Einstein (BEC), o que lhe aproximaria um pouco mais do seu interesse em gravitação quântica. Em 2020, voltou à UFMG como bolsista do programa CAPES PrInt para mais um pós-doutorado em Física, com o professor Nelson de Oliveira Yokomizo até 2021, em plena pandemia, sem à época perspectivas de renovação do financiamento. Esse foi o pós-doutorado mais inesquecível da cientista, pois finalmente estava fazendo pesquisa no tópico que tanto sonhava.

Sem a renovação da bolsa até aquele momento, Natália acompanhou na internet palestras de um grupo de pesquisa e financiamento apoiado pela Fundação a John Templeton, momento no qual ficou sabendo que haveria chances de aplicar para um pós-doutorado na Eslováquia. Para conseguir entrar na Eslováquia em uma época em que as fronteiras entre vários países estavam fechadas, ela precisou de diversos documentos, e ela conseguiu até mesmo uma carta de indicação do Ministro da Educação do país. Ela não leciona, sua função é a de pesquisadora na interface da informação quântica com gravidade. Por isso, são frequentes as suas viagens para congressos e eventos no continente europeu. Porém, ela sonha que, talvez, nos próximos dois anos, deva retornar ao Brasil.

“Eu vou fazer pesquisa de alta qualidade no Brasil e, além disso, não vou contribuir só pra minha carreira, vou contribuir para a minha nação também. Eu tenho muita vontade disso, eu acho muito lindo. Já dei aula entre o mestrado e o doutorado. E contar para os estudantes as coisas legais da Física é a parte mais gostosa.”

(Colaborou Roger Marzochi)