O trabalho foi publicado na PNAS no ano passado e teve a participação de Mateus Granha, à época aluno de 22 anos do último ano da Graduação no curso de Física de Materiais da Escola Politécnica de Pernambuco da Universidade de Pernambuco (UPE)
O crescente interesse pelo mercado de ações chamou a atenção dos físicos, que começaram a estudar o comportamento das bolsas de valores a partir de equações da Mecânica Estatística. Em 1995, o físico americano H. Eugene Stanley batizou essa nova área de pesquisa de Econofísica e se tornou um dos seus maiores expoentes.
Devido ao período de colaboração em pesquisa como professor visitante na Boston University, nos Estados Unidos, o professor da Universidade de Pernambuco (UPE), André Vilela, teve a oportunidade de colaborar com Stanley e muitos outros pesquisadores desse segmento e teve uma grata surpresa no ano passado.
O seu orientando de iniciação científica Mateus Granha, então aluno de 22 anos do último ano do curso de Física de Materiais da Escola Politécnica de Pernambuco na UPE, teve seu estudo publicado em parceria com Stanley na prestigiosa revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS).
O paper “Opinion Dynamics in Financial Markets via Random Networks” foi publicado no dia 29 de novembro de 2022, assinado também por Vilela, pelo economista Chao Wang (College of Economics and Management, Beijing University of Technology) e pelo cientista da informação Kenric P. Nelson (Photrek, LLC).
Mateus é estudante da primeira turma do curso e sempre gostou de economia por influência de seu pai, que é contador. Ao conhecer as linhas de pesquisa em Física com aplicações sociais, logo o aluno se interessou pela Econofísica e atuou por três anos na iniciação científica sob a orientação de Vilela.
“Todo mundo sempre fala como é interessante e esquisito unir essas duas coisas (Economia e Física). Grande parte dessa união se dá pela Mecânica Estatística”, diz Mateus ao Boletim da Sociedade Brasileira de Física (SBF), explicando que o estudo se utiliza de uma dinâmica de opinião econômica desenvolvida pelos autores, inspirada no Modelo de Voto da Maioria, uma adaptação social ao Modelo de Ising, utilizado na investigação de sistemas magnéticos. O Modelo de Voto da Maioria foi originalmente desenvolvido pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Mário José de Oliveira.
Por meio desse modelo adaptado à economia, é possível traçar um comportamento estatístico de um sistema, no caso, a influência no mercado de ações sob a ação de dois grandes grupos de investidores. Segundo Mateus, há diversos perfis de investidores, mas o trabalho teve seu foco em estudar o comportamento de dois tipos principais: um batizado de “investidor de ruído”, formado por indivíduos que vendem e compram ações a partir de influências familiares e de amigos; e, um segundo grupo, de investidores fundamentalistas, aqueles que agem no mercado de acordo com os fundamentos econômicos e seus efeitos globais.
Em linhas gerais, os investidores de ruído seguem tendências de investimento: “compram quando todos compram, e vendem quando todos vendem”. E suas opções de compra e venda podem ter grandes retornos, mas também retumbantes fracassos. E, segundo Mateus, é esperado que em qualquer mercado, haja uma predominância desse tipo de investidor, em especial no Brasil, possivelmente em razão da tardia popularização do investimento em ações no País, iniciada na década de 1990. Já os fundamentalistas, em menor número, embora movimentem fortunas, trazem ao sistema estabilidade, uma vez fazem suas decisões de acordo com os valores fundamentais das companhias em que investem, e, de maneira geral, se aproveitam de tendências de investimento: “compram quando a maioria vende e vendem quando a maioria compra”.
O estudo de Mateus relacionou o chamado Parâmetro de Ordem do sistema com quantidades econômicas como o retorno financeiro e a volatidade a partir de simulações computacionais com esses dois tipos de investidores. E chegou à conclusão de que ao se elevar a proporção de investidores fundamentalistas o sistema fica menos volátil. Isso significa retornos menores, mas maior segurança aos investimentos.
Embora o estudo tenha uma carácter descritivo, o trabalho apresenta comparações satisfatórias com os comportamentos observados em mercados financeiros reais, abrindo a possibilidade de que seus resultados possam gerar sistemas preditivos sobre as dinâmicas de mercado. Dentro do espírito da Econofísica, Mateus já investiu ainda mais e começou neste ano um mestrado em Física no Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “A economia é uma ciência social. Faz parte da minha escolha. Como físico a gente gosta de pesquisar o que nos instiga.”
(Colaborou Roger Marzochi)