Por M.Sc. Frederico S. M de Carvalho

Preocupados em fornecer um arcabouço de conhecimento de mecânica quântica (MQ) que pudesse ser aproveitado adequadamente pelos futuros docentes em Física, os pesquisadores Rafaelle Da Silva Souza, Ileana M. Greca, Elder Teixeira e Indianara Silva apresentaram na Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, o artigo “Matriz de referência como instrumento de apoio ao professor na condução do ensino de mecânica quântica para a licenciatura em física”. A pesquisa foi motivada pela observação de que há uma abordagem excessivamente tradicional da MQ e faz-se necessário trazer uma perspectiva contemporânea ao conteúdo, visando aproximar o aluno do fazer pedagógico. 

Para chegar à Matriz de Referência (MR) os pesquisadores apresentaram um panorama da abordagem da MQ. Partindo dos conceitos fundamentais demonstrados por cientistas como Schrödinger, Heisenberg, Born e Dirac, durante o início do século XX, e avançam pela MQ moderna apresentada por John Bell, em 1964, e discussões interpretativas, como a de Copenhagen. Nessa incursão, os autores destacam a importância do caráter experimental associado à teoria, demonstrado pela colaboração de Moseley ao que foi apresentado por Bohr, referente aos espectros atômicos, ratificando a abordagem “contextual-conceitual” reforçada na publicação.

No artigo, “propõe-se uma estrutura acentuando reflexões qualitativas e interpretativas na tentativa de promover uma abordagem contextualizada e atual da MQ”, defendem. Com este objetivo, os autores dividiram o trabalho em quatro etapas, partindo da análise das Diretrizes Curriculares Nacionais e literatura específica da área, construção de uma versão preliminar da matriz de referência, validação da matriz por especialistas e, por fim, um comparativo do material desenvolvido com o que é convencionalmente aplicado nas instituições de ensino superior nacionais que ofertam cursos de licenciatura em física, resultando na estrutura da MR apresentada no artigo.

Como balizadores para a definição do conteúdo apresentado na MR os pesquisadores focaram em responder cinco questionamentos pilares: para quem seria desenvolvido o material? Quais conhecimentos deveriam estar contidos na matriz? Por quais razões esses conhecimentos estariam presentes? O que se deseja desenvolver com esse conhecimento? Como utilizar o material desenvolvido?

Tais reflexões colaboraram para a visão da professora do Instituto Federal da Bahia, a autora Rafaelle da Silva Souza, sobre como aplicar o conhecimento sobre física quântica no ensino médio. Segundo a pesquisadora, para o docente atingir o sucesso no ensino da MQ, não basta saber calcular problemas ou compreender a teoria, é necessário ter habilidade de passar esse conhecimento adiante e é aí que a Matriz ganha importância. “A matriz torna-se uma ferramenta que pode ser usada para elucidar uma abordagem a nível superior que contribua para o objetivo final da licenciatura, que é a prática docente”, explica.

A respeito da implementação da matriz, a professora esclarece que “depende da predisposição do professor universitário de compreender esse modo de ver a formação inicial de professores de física”. Para ela, a partir do momento que ela é incorporada ao modo de pensar do docente, deve-se solicitar junto à coordenação do curso a aprovação e atualização da ementa da disciplina. Caso não seja possível, a pesquisadora sugere a implementação da MR sem descumprir a ementa curricular. “A matriz não é engessada e não tem o objetivo de desvalorizar o ensino vigente, pelo contrário, busca-se colaborar com o que já está sendo feito”, conclui.

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SOUZA, R. S. ; GRECA, I. M.; SILVA, I.; TEIXEIRA, E. S. Ensino de Mecânica Quântica na licenciatura em Física por meio da História e Filosofia da Ciência. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 38, p. 914 – 944     , 2021.
Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/74157/47046

SOUZA, R. S. ; GRECA, I. ; SILVA, I. ; TEIXEIRA, E. S. Reflexões sobre o ensino de Mecânica Quântica nos cursos de graduação em Física a partir de revisão sistemática. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 20, p. 1363 – 1391     , 2020.
Disponível em https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/21686/22936